segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O hard news agora é assessoria


James Capelli (foto: Nilton Carvalho)



Perfil do assessor de imprensa, jornalista, escritor, apresentador e professor, James Capelli. Redigido para a disciplina de Assessoria de Imprensa (4º ano do curso de jornalismo - Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS)





Por Nilton Carvalho





Os cabelos brancos denunciam a experiência que o jornalista, escritor, apresentador e professor - não perca a conta - James Capelli, possui na área da comunicação. Na memória, a lembrança do jovem repórter que foi atraído pelo lado romântico da profissão, segundo ele, a pessoa que investiga a verdade e divulga para as pessoas os assuntos. Algo que dialoga com o lendário texto Jornalismo, o melhor ofício do mundo, de Gabriel Garcia Márquez.



Durante a conversa que tivemos, no escritório onde trabalha, James falou sobre a carreira, que é recheada de passagens por diversas redações.
- Comecei a atuar em jornalismo há 25 anos – Relembra o profissional, que já passou por meios de comunicação como a extinta TV Manchete, Cultura, Gazeta e Globo, sem contar veículos impressos como o Diário do Grande ABC.



Hoje, James não trabalha mais produzindo conteúdo jornalístico diário, também conhecido como hard news. O jornalista abriu a empresa Escritório de Mídia, com o sócio e amigo de longa data, Danilo Angrimani, que presta Assessoria de Comunicação e desenvolve trabalhos de imprensa, mídia, marketing e propaganda, além de ser também editora.
O primeiro emprego na área da comunicação foi como assessor de imprensa concursado na Secretaria de Educação do Estado, um tipo de serviço que a atual empresa também presta. Ao relembrar o início de carreira, na época em que esteve em grandes redações, como a Rede Globo, o jornalista destaca a rotina puxada.



- Um dos locais onde eu trabalhei com a escala mais estranha foi na Rede Globo, não havia pré-escala definida... – Conta. Ao citar tal etapa da carreira, James alega que até mesmo para agendar uma simples consulta no dentista encontrava dificuldades por conta dos horários conflitantes impostos em um dos principais meios de comunicação do país.
Os anos de atuação na área proporcionaram ao jornalista a possibilidade de optar por uma rotina de trabalho mais flexível.
- Sempre quis estar próximo dos meus filhos, da criação deles. Isso veio depois de certa estabilidade profissional, a oportunidade de abrir uma empresa de assessoria de comunicação – Comenta a fase atual.



Ao fundo da sala principal do escritório de James Capelli nossos olhares escapavam, vez ou outra, para a televisão que exibia a partida válida pela semifinal da Liga dos Campeões da Europa, entre Barcelona e Real Madri. Como já havia trabalho com James, durante alguns meses, sabia que o jornalista é torcedor do Santos e não foi preciso entrar no assunto futebol.
Quando voltamos a conversar sobre a rotina de um repórter de jornal diário, James contou que a paixão pela notícia sempre moveu sua trajetória em jornalismo.
- Acho que o cara, principalmente o jovem, quer mais é estar na frente de trabalho – Diz, ao justificar a sede pela informação, presente no dia-a-dia do repórter.



Ao ser questionado sobre assessoria de imprensa, James chegou a me surpreender com a resposta, mas obviamente, o desfecho justificou o impacto da primeira impressão de suas palavras.
- Eu não acredito em assessoria de imprensa... A assessoria real, hoje, é a de comunicação – Concluiu de maneira precisa, ao apontar que o desenvolvimento de um release, contato telefônico no follow-up e o acompanhamento de uma entrevista representam apenas um pequeno segmento da área de assessoria de comunicação.
Dentre os tropeços das assessorias de imprensa, James não esquece que o que mais desgasta a relação assessor/jornalista é a ligação fora de hora. Neste caso, o profissional que já atuou nas duas áreas, tem maior possibilidade de evitar desavenças.
- O cara que não sabe o que é um “pescoção”, que nunca viveu, não sabe o que é o fechamento do jornal para o final de semana... Ele não vai saber de fato a hora de entrar em contato – Ressalta o jornalista, que tantas vezes passou pela correria de um fervoroso fechamento. Para James, é importante transitar pelos dois lados.



Outro aspecto marcante da profissão assessor de imprensa, sem dúvida, é a relação com o cliente. Não foram poucos os profissionais que perderam determinadas contas por serem pressionados por causa de reportagens não publicadas ou porque prometeram veiculações impossíveis.
- É preciso saber o que é notícia – Alerta, ao lembrar que o cliente precisa ter uma visão coerente das possibilidades e é função do assessor estabelecer uma relação de trabalho, baseado em um planejamento, para que se possa chegar aos objetivos.
- O cara quer aparecer no Jornal Nacional e possui uma empresa de pneus, daí eu pergunto: “o que está acontecendo com a sua empresa?” – Conta.
De acordo com James, o empresário, responsável pelo setor de marketing ou de recursos humanos contrata a assessoria de comunicação, geralmente, para resolver problemas. Quem está sendo contratado precisa identificar esses problemas e deixar bem claro os caminhos para que a necessidade do cliente seja atingida.



O ano de 2011 tem sido importante para James Capelli. Afinal de contas, vai ser difícil esquecer o primeiro livro publicado. O lançamento do romance policial com pitadas de experiências factuais, Elo, trouxe à tona a experiência de roteirista dos tempos de TV Cultura e as reportagens sobre boletins de ocorrência.
- Faltava colocar em prática o lado ficcional – Diz o autor, sem deixar de lado o ponto forte que marcou a construção do romance.
- Claro que o livro é embasado em experiências que tive na vida. É um livro policial e alguns dos crimes, ali relatados, eu vi de perto como profissional – Ressalta.



O conhecimento, alimentado ao longo de todo esse tempo na área da comunicação, conduz James ao perfil de professor. Como se não bastasse, o jornalista também é contratado para implantar departamentos de jornalismo e dar treinamentos. Foi assim que conheci o trabalho dele pela primeira vez, quando comecei a estagiar em uma Web TV da região do Grande ABC. À época, James assumiu o desafio de liderar uma equipe de jovens jornalistas, fui contratado após passar por um teste, seguido de entrevista, e aprendi algumas lições importantes, durante os meses em que trabalhamos juntos.



Aliás, quando a entrevista que gerou este texto chegou ao fim, James ainda deixou mais uma boa lição, para quem está começando a construir uma carreira.
- Depois de uma certa experiência, você vai buscar, como eu disse, após ter passado muita coisa, os seus confortos e os seus desafios – Pondera. Uma boa dica para quem pretende se formar jornalista.