terça-feira, 19 de julho de 2011

A arte que alimenta a vida

Mariana Meloni (foto: acervo pessoal)



Perfil da professora de Fotojornalismo, Mariana Meloni, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS.






Por Nilton Carvalho


Era um sábado de muito calor. A entrevista, agendada para o final da tarde, me deu a tranquilidade suficiente para que eu pudesse dar uma passada na Pinacoteca do Estado de São Paulo para conferir a exposição do artista russo, Aleksandr Rodtchenko (1891-1956). O trabalho de Rodtchenko na área da fotografia, aliás, é apreciado pela professora Mariana Meloni, 34, que eu iria entrevistar naquele mesmo dia.


Quando cheguei ao apartamento de Mariana, que ela divide com a amiga Dani e com duas gatas de estimação, localizado no bairro Higienópolis, em São Paulo, pude observar que o aspecto do local dialoga com a paixão que professora tem pelas artes. Alguns trabalhos dela enfeitam a sala de estar, dentre eles, uma série feita com uma polaróide. “Na verdade, é auto-retrato. Mas estou trabalhando com performance, trabalhando com personagens, não sou eu exatamente, é um personagem que eu representei. São três mulheres diferentes, são três personas”, conta. Ao lado esquerdo da sala, um armário guarda um acervo de fitas VHS, da antiga produtora de vídeos independentes, que a professora tinha, chamada Brócolis VHS. A bem sucedida produtora era gerenciada em parceria com o antigo namorado, mas, como nem tudo dura para sempre... “Depois eu terminei o namoro, não quis mais saber de fazer vídeos”, diz Mariana sem deixar escapar os risos, após fazer a brincadeira.


Na vida, muitas lembranças fazem com que o nosso presente seja compreendido de uma maneira mais clara e Mariana me contou que uma das pessoas que mais influenciaram sua carreira de fotógrafa foi o avô. “Ele dizia: pra arte você leva jeito. Ele era o único que falava”, lembra. No entanto, a entrada para o universo da fotografia veio somente durante o curso de Ciências Sociais, quando Mariana começou a estudar fotografia paralelamente. Além disso, o contato com a disciplina de “Antropologia Visual”, também ajudou. “Eu continuei fazendo, mas sempre tentando incorporar a imagem e o vídeo, que era outra coisa que me interessava muito, ao curso de Ciências Sociais”, diz.


Apesar de ter pesquisado sobre Mariana, antes de realizar a entrevista, fiquei surpreso quando soube que ela nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, se a professora não tivesse me avisado, seria praticamente impossível perceber que ela não nasceu em São Paulo. No entanto, Mariana está acostumada com mudanças em sua vida. Certa vez, a mãe da professora ganhou uma bolsa de estudos para ir à Inglaterra, fato que fez Mariana estudar na terra da rainha dos quatorze aos dezoito anos. “Já pensou? Eu tinha quatorze anos, queria ficar aqui com os meus amigos e tive que ir embora” lembra. Mas, apesar das dificuldades de ter indo para um país diferente com pouca idade, Mariana também vê o lado positivo. “Foi uma experiência super rica”, diz.


Quando o assunto é fotografia, disciplina que ela ensina na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Mariana não esconde a paixão pela área. “Ela está em tudo. A fotografia está presente no cotidiano mesmo, como você faz a sua vida. Como uma grande obra de arte”, conta em tom filosófico e sorri após a frase impactante. Para a professora, uma boa foto é aquela que toca a pessoa de alguma maneira, mas para ela, o fotógrafo também precisa romper alguns padrões. “Ela pode ser boa em diversos sentidos”, explica. Mariana se interessa por fotos que tragam algum tipo de crítica social e também denúncia. Para ela, quando existe um padrão e você rompe ao abordar a imagem de outra maneira, também pode tornar uma foto boa. “Acho que um exemplo disso é aquela foto do urubu e da menininha, ela está trazendo um questionamento social”, conta.


De acordo com Mariana, a fotografia, assim como as artes, de uma maneira geral, precisa abordar o lado social. Seja através da sátira ou até mesmo o fato de uma banda fazer música ruim, propositalmente, é algo que pode questionar. “Eu gostaria de ter mais relação com a política”, confessa a professora. Mariana também destaca que até mesmo quando levamos arte às periferias estamos fazendo um trabalho social.


Outro assunto que não poderia faltar em nossa conversa é o lado professora, de Mariana. A ideia começou logo após o curso de Ciências Sociais. “Eu terminei a faculdade e fui fazer mestrado em fotografia. E quando você termina o mestrado uma das opções de trabalho é dar aula. É uma maneira de estar em contato com o conhecimento e de sobreviver também”, lembra. Apesar das dificuldades no início da carreira, como por exemplo, dar aulas em salas com muitos alunos, Mariana conta que vive a profissão de professora intensamente hoje em dia. “Eu sou professora vinte e quatro horas. Não sei, você está conectado, não é? Você não se desconecta”, diz. Mesmo durante as folgas, quando a professora sai por aí sem nenhuma responsabilidade ou horário pré-estabelecido, ela não deixa de pensar em como enriquecer o conteúdo das aulas. “De repente estou numa livraria, daí eu vejo um livro, “ah, vou levar esse livro na aula”, sabe? É uma coisa muito parte da vida mesmo”, explica. Vida que também traz diversos projetos, todos relacionados à arte.


Um desses projetos, e um segredo que consegui descobrir em primeira mão, é a elaboração de um livro de receitas. Sim, Mariana ama cozinhar. A tradição vem de família, a mãe cozinhava, a avó cozinhava e com ela não foi diferente. “O meu novo projeto é um livro de receitas. Gosto de fazer comida e inventar pratos”, diz a professora. O doce petit gateau é uma das especialidades de Mariana, mas, outros pratos como macarrão ao molho de gorgonzola, com tomates frescos e manjericão também faz sucesso entre os amigos e a família. Quando pergunto de onde vem o prazer de cozinhar, Mariana é direta: “porque eu sempre gostei de comer, então é assim. Eu tinha que aprender a fazer as coisas que eu gostava de comer”. A professora já até projetou o lançamento do livro e optou por uma idéia bastante alternativa. “Eu quero fazer o lançamento aqui na minha casa, com os meus amigos e com comida. Vai ser ótimo”, conta cheia de entusiasmo.


Em determinado momento da conversa, a amiga Dani chega e eu explico a ela que vou escrever o perfil de Mariana, então ela diz: “ah, escreve sim, ela é ótima”. Após receber o elogio da amiga, a professora continuou me contando sobre seus projetos e sua vida. Como eu já havia escutado o toque do celular dela, e reconhecido a canção, perguntei sobre o seu gosto musical. E para a minha surpresa, Mariana também gosta muito de uma das minhas bandas favoritas. “Você sabe que eu gosto de The Clash, que eu amo, que é a música do meu celular (risos)... É a Spanish Bombs, que é maravilhosa”, concluiu.


É difícil não relacionar a vida da professora Mariana com as artes porque as atividades rotineiras em sua vida enfatizam essa proximidade. Além do trabalho com a fotografia, Mariana ainda tem tempo para se dedicar às aulas de desenho, balé além de um projeto que agrega dança e vídeo, com o namorado Ira Tan. Outro trabalho que a professora tem desenvolvido é com um estilo de fotografia alternativo, feito com câmeras pinhole, que são máquinas artesanais, elaboradas a partir de um tipo de papel especial. “Para fazer uma foto você não precisa nem de dinheiro, você mesmo pode fazer a sua. Essa política que é legal, o “do it yourself” (faça você mesmo), que é a frase punk, lembra? Esse é o punk da fotografia”, explica. Mesmo com todas essas coisas ocupando o seu tempo, ao logo da semana, Mariana se diz uma pessoa normal, como qualquer outra. Isso porque além dos compromissos profissionais e projetos ela ainda encontra tempo para cuidar das gatinhas de estimação, Ximbica e Petite, e também dos afazeres de casa. Mas, para alguém que já possui a experiência necessária e sabe se virar sozinha e correr atrás dos objetivos, isso não é nada que a professora Mariana não dê conta.


Em meio à toda essa agitação a professora, fotógrafa, artista e culinarista segue desempenhando muito bem todas essas funções, sempre com muita dedicação. Para resumir a relação de Mariana com seus projetos talvez o melhor termo que eu deva utilizar para finalizar este texto seja o “faça você mesmo” e é bom lembrar, que o próximo será o tão aguardado livro de receitas, cujo lançamento eu tenho orgulho de ter sido convidado e, certamente, não irei perder.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Após ganhar experiência, escolha o que é melhor pra você

A jornalista Heloísa Noronha



Texto elaborado após a palestra, realizada pela jornalista Heloísa Noronha, na sala da turma do 4º ano de jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS.




Por Nilton Carvalho

A vida possui diversas etapas. Entrar no mercado de trabalho é uma delas, até porque, ter uma profissão é essencial para sobreviver. Esta fase da vida começa com a escolha do curso de graduação, segue com a fase pós-diploma, quando chegam as primeiras experiências profissionais, e se estabiliza com a conquista de espaço na área. Claro que não se pode esquecer que grande parte das mulheres ainda precisam se preocupar com os filhos e com a família.


Seja qual for a profissão, geralmente, essa é a trajetória de uma mulher no mercado de trabalho. Mas, o que fazer quando já possuímos a experiência necessária e queremos optar pelo que é melhor para nós? O ideal é definir um projeto de vida e seguir em frente, mesmo que seja necessário mudar de emprego.


A jornalista de longa data, Heloísa Noronha, que passou por diversas redações, incluindo jornais impressos e revistas como Nova, Contigo e Corpo a Corpo, sem contar os livros publicados, é um bom exemplo de profissional que escolheu o conforto, após anos de muito empenho. Até pouco tempo atrás, Heloísa precisava enfrentar o trânsito pesado de São Paulo, todos os dias, ao sair de São Caetano do Sul, que fica na região do Grande ABC, para chegar até a redação da revista na qual ela trabalhava, localizada no bairro Casa Verde, zona norte de São Paulo.


Como a jornalista também colabora na editoria de comportamento do Portal UOL, decidiu que seu trabalho, na área de revistas, seria somente como freelancer, ou freela, como o jornalista que colabora com reportagens, mas que não possui vínculo com a revista é chamado na linguagem das redações. A opção de ser freela permite que Heloísa continue escrevendo suas matérias para a revista, sem precisar estar na redação todos os dias. O trânsito caótico de São Paulo, agora nem pensar. Além disso, a jornalista pode dedicar mais tempo aos projetos paralelos, como seu próximo livro, que desta vez será ficcional, sem contar que ela também pode ficar mais com a família.


A rotina profissional de Heloísa é um bom exemplo para mulheres que já possuem certa experiência, em determinada área, e que agora querem optar pelo bem estar. Para quem trabalhou tanto tempo e, muitas vezes, passou por momentos difíceis, chega a fase de fazer escolhas. Seja para tirar projetos pessoais do papel, realizar sonhos ou curtir mais a família, essa é a hora. Se a vida é cheia de etapas, é preciso saber aproveitar e enfrentar cada uma delas, assim como fez a jornalista e escritora Heloísa Noronha.