sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

COP fiasco


Por Nilton Carvalho


Foram dias de conferência com a participação de nações desenvolvidas, emergentes e em desenvolvimento. Os debates foram longos e cansativos e, infelizmente, o resultado foi considerado um fiasco. É assim que termina a tão comentada Cúpula de Copenhague, que conseguiu apenas um “tímido acordo” no último sábado, 19 de dezembro.

Nada de metas, somente uma “carta de intenção” com um conteúdo muito abaixo do que se esperava para combater o aquecimento global. O resultado gerou duras críticas de ambientalistas que acompanharam os debates. Líderes dos principais produtores de gases estufa, como Estados Unidos e China, travaram as negociações que propunham metas para a redução de emissão.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou o compromisso como um “importante passo” em busca de objetivos mais ambiciosos. Mas, durante os debates ficou claro que os países desenvolvidos não querem assumir metas significativas para reduzir a emissão de gases poluentes. Para alcançar resultados satisfatórios é necessário um esforço conjunto que certamente irá impactar na economia de todos que assinarem o acordo de redução.

Outra questão importante é o compromisso que deve ser respeitado por todos os países, independente do regime político. A China questionou o fato de haver uma inspeção nos países que se comprometerem em reduzir a emissão de gases estufa e essa divergência também foi uma das questões que impediram a definição de um acordo ambicioso.

Se o primeiro passo foi dado em Copenhague, como o presidente americano destacou, esse passo foi muito pequeno comparado ao tamanho do problema ambiental que o planeta atravessa. No próximo encontro dos principais líderes mundiais, o que se espera é um segundo passo mais abrangente. Um passo que atravesse os obstáculos políticos e os interesses econômicos e alcance um resultado que possa salvar o futuro do planeta.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A chuva que destrói sonhos


Por Nilton Carvalho

Uma crônica baseada na triste situação de muitos moradores de São Paulo após as fortes chuvas da última semana...


O despertador anuncia o começo de mais um dia de trabalho às 5h da manhã. O pedreiro José Clementino, também conhecido como Zé, toma sua tradicional xícara de café acompanhada de meia fatia de pão e, logo em seguida, parte para o trabalho sem demora. Zé trabalha numa obra localizada no bairro do Morumbi e acha que o salário e os benefícios oferecidos lá são bons, por isso, não quer chegar atrasado de jeito nenhum.

Era uma típica quarta-feira e a animação começava a aparecer, pois a semana já estava quase acabando e o descanso merecido do sábado se aproximava. O dia começou quente e logo cedo os termômetros já marcavam 28 graus. Quando chegou ao trabalho, logo percebeu que o clima era de descontração entre os colegas. A época das festas se aproximava e a primeira parcela do 13º havia caído, o que garantia que muitos deles teriam um natal razoavelmente bom.

Depois do almoço, a turma se reuniu em frente à obra e o radinho de pilha de Gonçalves, um dos colegas de trabalho, estava sempre sintonizado no noticiário durante a pequena pausa. A rádio anunciava que a previsão do tempo para àquela tarde seria de forte chuva em toda a Grande São Paulo, devido ao calor. Mas, a notícia passou despercebida pela turma que discutia sobre o futuro da seleção brasileira em ano de copa do mundo.

Às três e meia da tarde o céu mostrava sinais de que em breve cairia uma tempestade em São Paulo, conforme a previsão do tempo havia alertado. Zé começou a ficar preocupado porque sabia que a chuva, na maioria das vezes, transformava a cidade num caos sem precedentes, principalmente, nas regiões de baixa renda como o bairro onde morava. Não demorou muito e a tempestade começou.

A preocupação de Zé se tornou uma infeliz realidade quando na metade do caminho o ônibus em que ele estava parou. Era impossível continuar o trajeto por causa do alagamento na pista, que ocasionou quatro horas de espera dentro do ônibus até que as águas baixassem. Já eram quase 11 horas da noite e Zé ainda não havia conseguido voltar para casa. Ele permaneceu calmo e, finalmente, conseguiu descer no ponto próximo de sua residência, no Bairro de São Miguel Paulista.

Quanto mais ele caminhava, mais sirenes de bombeiros e ambulâncias ele via. Foi então que um calafrio percorreu todo o seu corpo, como um anúncio do que estaria por vir. A faixa de isolamento não permitia que ele seguisse em frente, mas, ao avistar de longe sua casa ele só conseguiu enxergar um barranco cheio de destroços das casas que desabaram juntamente com a sua.

Zé atravessou a faixa de isolamento e correu como nunca havia corrido antes. Alguns bombeiros tentaram impedir que ele prosseguisse e ele então gritou: “Eu moro aqui, quero saber onde está minha família!” De repente ele ouviu a voz de sua esposa Regina, que trazia nos braços sua filha, a pequena Clara. Ao cair de joelhos no chão, Zé se pôs a chorar, talvez de alívio ou de alegria. Uma mistura de sentimentos e emoções difíceis de descrever. Durante a tempestade, Regina sentiu a casa tremer e imediatamente saiu correndo com a filha nos braços, minutos depois tudo desabou.

Uma grande cidade como São Paulo, constantemente atrai pessoas de outros estados, que vêm em busca de uma vida melhor. Mas, infelizmente muitas vezes o sonho acaba como o de Zé, que perdeu tudo no desabamento de sua casa. O barraco havia sido construído próximo de uma encosta, numa área proibida. Dezenas de famílias construíram suas casas no local considerado de risco e, na ausência de fiscalização por parte do governo, permaneceram lá até o triste dia do desabamento.

Zé, agora olha para o que sobrou de sua casa com muita tristeza. Em poucos minutos de chuva forte tudo o que ele havia construído desabou, mas felizmente sua família não sofreu nenhum arranhão. Buscar forças para renovar a esperança será uma tarefa das mais difíceis, principalmente, quando se necessita de auxílio do Estado. A única alternativa que restou para as famílias que perderam tudo, inclusive os sonhos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O último suspiro do rock





Por Nilton Carvalho

Nos primórdios do rock, costuma-se dizer, que existe um importante divisor de águas, o disco de estréia de Elvis Presley, lançado em 1956. A capa do disco homônimo trazia Elvis empunhando sua guitarra e soltando a voz. O álbum passou a ser considerado o primeiro do novo estilo chamado rock’n’roll, pelo menos, gravado por um artista branco. A tipologia usada na capa do disco influenciou, vinte anos mais tarde, outro marco na história do rock, o disco London Calling do Clash, que na última quarta-feira completou trinta anos.

No final dos anos setenta, o punk rock surgiu como uma vertente do rock. Agressivo e rápido, o novo estilo tinha como principal característica a simplicidade dos acordes. O que parecia uma revolução devastadora, com o tempo. foi se tornando apenas repetição. Exatamente durante esse período, o The Clash decidiu quebrar as barreiras impostas pela revolução punk.

No início de 1979, o Clash fez sua primeira turnê pelos EUA e no final do mesmo ano, entrou em estúdio para gravar seu terceiro disco. Durante as gravações, a idéia inicial da banda foi que o novo álbum deveria se chamar “The Last Testament” (O último Testamento). Um nome que, apesar de descartado pela banda, possui um importante significado.

A idéia de “último testamento”, indicava que aquele seria o último disco de rock de todos os tempos. Pois, assim como o disco de estréia de Elvis Presley, que sacudiu as estruturas da música, o álbum do Clash traria de volta a ousadia do rock através da inovação na sonoridade da banda. A capa do disco, ilustrada com uma foto do baixista Paul Simonon destruindo seu instrumento durante um show em Nova Iorque, usava a mesma tipologia do disco de estréia do rei do rock (o verde e rosa).

Se em seu primeiro disco, Elvis Presley erguia o instrumento e cantava para o público, no álbum London Calling, o Clash anunciava o derradeiro suspiro do rock após o golpe desferido pelo baixista Paul Simonon. Menções à parte, o disco representa o momento em que todos os integrantes do Clash contribuíram com sua criatividade na construção estética das canções.

O disco, lançado oficialmente no dia 14 de dezembro de 1979, celebra deliciosamente o rock passando por outros estilos musicais como o jazz e o reggae. A preocupação do Clash em London Calling foi simplesmente tocar o que eles apreciavam. Essa atitude, mostrou que o punk rock poderia ir muito além dos três acordes ao absorver diversas influências musicais e entrar, definitivamente, em toda e qualquer lista de melhores de todos os tempos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O drama da Roosevelt


Por Nilton Carvalho

Alegre e descontraída, a boemia que frequenta o circuito teatral localizado na praça Roosevelt é uma mescla de amantes do teatro, artistas em busca de novos contatos profissionais e diretores caça-talentos. O importante cenário cultural da cidade atravessa um bom momento, mas também sofre com os problemas de uma grande metrópole.

A praça Roosevelt, que se tornou o principal ponto de encontro da arte teatral em São Paulo, viveu no último sábado, 5 de dezembro, um triste capítulo cujo tema foi a violência. Durante um assalto ocorrido no Espaço Parlapatões, o dramaturgo Márcio Bortolotto levou três tiros e segue em estado grave na UTI da Santa Casa, no bairro de Santa Cecília.

Mesmo que o fato tenha sido considerado por muitos uma infeliz “fatalidade”, o caso trouxe à tona discussões sobre a revitalização da praça Roosevelt. O local, que passou a receber um grande número de pessoas em função dos grupos teatrais espalhados pela região da praça, não teve a segurança reforçada nem sequer passou por reformas estruturais.

A administração municipal alega que “questões burocráticas” dificultam o começo das obras de revitalização na praça Roosevelt e os problemas causados pelo abandono do local começam a incomodar os visitantes. Frequentadores dos bares e teatros, alertam sobre a falta segurança, que pode afastar o público da cena teatral localizada na Roosevelt, caso medidas de segurança e projetos de revitalização não sejam concluídos na praça.