quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cidadania entre mendigos e policiais


Por Nilton Carvalho


Aplicar a cidadania de maneira efetiva a todas as classes sociais em uma sociedade desigual como a existente no Brasil é tarefa das mais difíceis. Basta notar as punições que ocorrem em julgamentos de abastados e pobres que iremos nos deparar com uma situação tão desigual quanto injusta. No caso de policiais e mendigos, dois integrantes do cenário urbano das grandes cidades, este conceito segue o mesmo raciocínio.

No exercício da cidadania, os policiais têm o dever de zelar pela segurança dos cidadãos, independente de sua cor, religião ou classe social. Entretanto, existem diversos casos em que o abuso de autoridade, feito por oficiais de polícia, aconteceu simplesmente pelo fato do indivíduo ter aparência humilde e ser negro, ou seja, um fato que foge dos princípios da cidadania.

O mendigo, que na maioria das vezes é tratado com preconceito pela sociedade, tem sido vítima constante de atos violentos, sem contar que este não desfruta de nenhum direito básico de cidadania.

Portanto, enquanto o mendigo for percebido como algo que deve ser higienizado do cenário urbano e o policial não cumprir o seu dever sem manifestar qualquer tipo de preconceito, a cidadania jamais poderá ser aplicada de maneira efetiva em ambos os casos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Jornalismo e o sensacionalismo mórbido


Por Nilton Carvalho


A busca incessante pela audiência tem provocado sérios problemas para a qualidade do jornalismo de hoje. Como se não bastasse matérias elaboradas sem fundamento e pesquisa, as coberturas sensacionalistas de caráter policial transformaram as coberturas em espetáculos onde cenas violentas ganham cada vez mais espaço.

De acordo com o Código de Ética da FENAJ, Federação Nacional dos Jornalistas, coberturas de crimes e acidentes não devem expor cenas cruéis, pois estas são contrárias aos valores humanos.

Esse tipo de imagem não aumenta o grau informativo da matéria nem sequer mobiliza a sociedade. O simples fato de cobrir de maneira coerente, poupando o telespectador de imagens inadequadas de mutilações, já é o bastante para transmitir o conteúdo necessário para que a população receba a mensagem.

Mesmo que o tema em questão esteja diretamente ligado ao jornalista, o profissional não pode tirar vantagem da reportagem para visar o interesse pessoal. O jornalista é um prestador de serviços da população, ele capta os acontecimentos mais relevantes e os transmite de maneira que todos, independente do nível de ensino, possam compreender.

Partindo desta linha de pensamento e respeitando sempre os conceitos do Código de Ética, o jornalista irá exercer a profissão zelando pela democracia e os princípios da cidadania. Informar é permitir que a sociedade conheça os fatos e tire suas conclusões e não confundir as notícias com espetáculos repletos violência.

sábado, 6 de novembro de 2010

A hora da presidenta

Dilma Rousseff, presidenta do Brasil

Por Nilton Carvalho

No último dia 31 de outubro, o povo brasileiro elegeu a candidata do PT, Dilma Rousseff, presidente do Brasil. Cerca de 55% dos brasileiros optaram pela continuidade do atual governo, que teve dois mandatos do presidente Lula.

Em termos histórico-culturais, vale ressaltar que é uma enorme conquista para as mulheres, pois é a primeira vez que uma presidenta assume o Brasil. No campo político, significa uma vitória particular para Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu eleger seu sucessor.

Mas e para o povo brasileiro, o que isso significa? Considerando os números atuais comparados aos de 2002, quando Lula assumiu a presidência, temos um PIB de 7%, contra 2,7% e uma taxa de desemprego de 6,2% contra 12,7%, daquele ano, só para citar alguns. Dados como estes certamente foram considerados pelo eleitorado.

Em relação às políticas de inclusão social é possível seguir a mesma linha de pensamento. Programas como o Bolsa Família, PAC, Minha Casa Minha Vida e a valorização do salário mínimo impulsionaram a economia, mesmo atravessando uma “crise relâmpago”, no primeiro semestre de 2009.

Mas nem tudo é positivo, Dilma terá um grande desafio no que diz respeito ao combate à corrupção. O governo Lula sofreu com episódios como o mensalão e a recente questão envolvendo a Casa Civil, que já foi ocupado pela presidenta.

Denúncias envolvendo aliados como Sarney e Renan Calheiros também representam o lado negativo do governo Lula. Tudo isso deixou “no ar” que corrupção acontece, quando na verdade, ela precisa ser combatida com pulso firme.

Com a missão de erradicar a miséria em quatro anos de mandato, segundo a própria presidenta disse em sua campanha, a ampliação de programas sociais devem ser a principal ferramenta para que a promessa realmente aconteça.

Para os brasileiros, o que se espera é que, além de ampliar as políticas de inclusão social, Dilma trabalhe em prol de uma educação de qualidade. Investir em conhecimento e ensino certamente irá ajudar a formar cidadãos conscientes e capazes de construir uma sociedade mais justa e que acompanhe o crescimento econômico do país.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Perfil na web influencia contratação

Por Nilton Carvalho



Elaborar perfis atraentes para o mercado de trabalho pode ajudar a brigar por uma vaga de emprego



Helen Amaral, operadora de produção

(Matéria publicada pelo jornal "Diário do Grande ABC", edição de 19 de setembro de 2010)



Candidatos que estão procurando emprego e gostam de interagir em redes sociais como o Orkut, Twitter e Facebook precisam ficar atentos. Com a revolução digital, que vem promovendo constantes mudanças na vida das pessoas, algumas empresas têm observado os perfis dos candidatos nas redes sociais, durante o processo seletivo. Entretanto, muitos usuários ainda não perceberam que estas ferramentas podem ser utilizadas como uma espécie de currículo e acabam configurando conteúdos inadequados para o mercado de trabalho.
Para evitar que isso aconteça, é necessário entender que as redes sociais vão muito além do que mera diversão. “Muita gente ainda acredita que as redes sociais são apenas um ambiente para lazer como manter contato com amigos, família, conhecer novas pessoas, etc.”, conta o especialista em planejamento digital, Maurício Gouvea.
Atualmente, as empresas têm se preocupado com a utilização das redes sociais por parte de seus funcionários, o que mostra que não vai demorar muito para que as redes sociais, obrigatoriamente, sejam analisadas pela empresa que deseja contratar. De acordo com o consultor da TGT Consult, Waldir Arevolo, essa preocupação já começou por conta da má utilização das ferramentas sociais. “As pessoas estão banalizando, achando que nas redes sociais você pode escrever qualquer coisa”, conta.

Polêmica Digital

Recentemente, um caso que chamou a atenção no meio corporativo foi a demissão do diretor comercial da Locaweb, Alex Glikas, que ofendeu o São Paulo Futebol Clube no Twitter, após uma partida contra o Corinthians, time que o executivo é torcedor. O fator decisivo para o desgaste entre a empresa e o diretor ocorreu devido ao patrocínio da marca Locaweb na camisa do clube paulista. O caso despertou questões polêmicas envolvendo a liberdade de expressão. Enquanto uns defendem que opiniões postadas nas redes sociais tornam públicas informações desnecessárias, outros defendem que exigir “políticas de uso” para as redes sociais significa censurar o funcionário.
Para o consultor Waldir Arevolo, a questão não é proibir, mas ensinar o funcionário a utilizar o canal correto. “A empresa não quer calar, mas sim orientar sobre o que deve e pode ser feito com as ferramentas das redes sociais. Você troca um funcionário e ganha um colaborador”, explica.
Questões polêmicas envolvendo empresas e funcionários, no ambiente das redes sociais, têm ocorrido constantemente e, em alguns casos, chegam até ao ponto de causar demissões, como no caso do executivo da Locaweb. “Às vezes, a pessoa não sabe o tamanho do ruído que um comentário em uma rede social pode causar”, conta Waldir. Para evitar contratempos como este, os usuários devem pensar duas vezes antes de tornar pública alguma informação que possa prejudicar o seu perfil, seja ele funcionário ou candidato em busca de uma vaga de emprego.
Essa tendência de monitorar e levantar dados comportamentais nas redes sociais já é uma realidade. A preocupação das empresas em estudar as opiniões de determinados nichos de mercado pode guiar novas projeções e isso exige que os funcionários e candidatos também estejam antenados. “Através das redes sociais é possível criar verdadeiros vínculos de relacionamento com seus consumidores, através de um diálogo franco e transparente. É a transformação de um relacionamento meramente transacional e impessoal para algo realmente passional, constante e mais próximo”, explica o especialista em planejamento digital, Maurício Gouvea.
Para o especialista, a postura indevida nas redes sociais fez muitas empresas adotarem “códigos de conduta” na web. “Algumas empresas já desenvolveram, inclusive, diretrizes para as redes sociais com o objetivo de ajudar seus funcionários a se relacionarem no ambiente virtual”, destaca o especialista.
As discussões sobre a implantação de “políticas de uso” para as redes sociais, na opinião do consultor Waldir Arevolo, não existiriam se o mesmo procedimento fosse implantado em outros canais. “É preciso entender o objetivo da mensagem para criar uma política de comunicação que não seja aplicada apenas a um canal. Para que as pessoas saibam os diferentes tipos de relacionamentos sociais”, diz. Outra questão, é que algumas empresas proíbem os funcionários de utilizarem as redes sociais, o que já pode ser considerada como uma medida ultrapassada e que interfere na relação com os funcionários. Na opinião do consultor, isso estimula o surgimento de críticas. “Quando você sai da empresa, onde você não pode usar as redes sociais, você chega em casa e diz no Twitter: ainda bem que eu saí”, conta.

Como configurar um perfil atraente

A aplicação de medidas preventivas pode ser utilizada em favor dos candidatos que estão procurando uma vaga no mercado de trabalho, pois quem sair na frente e elaborar perfis engajados terá vantagens em processos futuros.
A operadora de produção, Helen do Amaral, que está desempregada no momento, entende a necessidade de se preocupar com o conteúdo postado na web, mas, também vê um pouco de invasão de privacidade na questão. “O candidato, às vezes, não espera que seus comentários ou coisas colocadas para pessoas que ele conhece possam ser vistos por outras pessoas que, futuramente, podem não escolhê-lo para um emprego apenas avaliando parte de sua intimidade”, observa.
Estar preparado para o mercado de trabalho é conhecer as exigências do mercado e ficar atento para não ser pego de surpresa. “As empresas estão cada vez mais preocupadas com o comportamento de seus funcionários nesses ambientes”, conta Maurício Gouvea.
Considerando a importância das redes sociais nos processos seletivos de hoje, o candidato deve estar atento para algumas informações que podem ser úteis durante a avaliação do seu conteúdo na web. De acordo com o consultor Waldir Arevolo, o candidato deve mostrar em seu perfil, no Orktu ou Facebook, por exemplo, que é uma pessoa atenta para as novidades que estão ocorrendo e manter sempre atualizadas as informações sobre leituras e cursos. “O emprego ocorre muito por causa da demonstração de motivação, ler diferentes tipos de leitura e mostrar o que você tem pesquisado”, destaca. Mas, é importante que o candidato jamais insira em seu perfil dados incorretos, apenas para “incrementar” o currículo. “É obrigatório falar a verdade porque tudo que você escreveu vai ser checado”, alerta.
O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e as redes socais tanto podem ajudar o candidato a se destacar, com um perfil interessante e engajado, como podem prejudicá-lo, transmitindo uma percepção negativa para quem pretende contratar. No ambiente das redes sociais, é necessário ter muito cuidado para depois não se arrepender com o que foi escrito e atualizado.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O olhar que transforma lixo em arte

Rodrigo Machado e Pado, a dupla Urban Trash Art


Por Nilton Carvalho

As artes plásticas atravessaram diversas mudanças ao longo da história, nomes importantes deixaram contribuições desde o renascimento até o modernismo, passando também pelo pós-moderno. Pode-se dizer que este campo viveu, e está vivendo, constantes revoluções.

Inquietações artísticas inserem na sociedade atual, baseada no consumo exagerado e na saturação de bens e serviços, conceitos capazes de dialogar com a realidade. É neste sentido que a dupla Urban Trash Art, formada por Rodrigo Machado e Pado (Cleber Padovani), desenvolve seu trabalho.

O lixo descartado nas ruas de São Paulo é a matéria-prima que abastece a fábrica de idéias da dupla, conhecida pela sigla UTA. As obras, elaboradas a partir de objetos que a princípio não têm mais utilidade, são trabalhadas dentro do contexto urbano, ou seja, o processo de criação ocorre na própria rua.

Assim como o flâneur, idealizado por Charles Baudelaire, que caminhava pelos espaços urbanos para vivenciar o caos dos grandes centros, Rodrigo Machado e Pado saem à procura de objetos descartados pela sociedade de consumo. Tudo o que é coletado renasce, ganha forma e dentro do contexto das ruas é transformado em arte.

O público reage de diversas maneiras, do espanto à admiração, pois muitos não acreditam que é possível fazer arte com o que a sociedade joga fora. Se o apelo parece sustentável, ele é acima de tudo político, uma espécie de “anartistas” que detectam possibilidades e fazem intervenções, não há um parâmetro pré-estabelecido, mas idéias que vão surgindo e se completam.

Criar um “Jacaracol” ou uma “Centopéia Viking” depende muito do momento e contexto, mas o conceito final mostra que o lixo é lixo somente até entrar em contato com mãos e mente do artista. Se Marcel Duchamp, certa vez, elevou um urinol ao patamar artístico, a dupla Urban Trash Art é capaz de transformar o lixo urbano em obras de arte.

domingo, 19 de setembro de 2010

Toque feminino na construção civil

Alunas do Curso de Construção Civil para Mulheres

Por Nilton Carvalho

O mercado da construção civil acaba de ganhar um novo perfil de funcionário. O segmento deixa de ser espaço exclusivo dos homens com a implantação do Curso de Construção Civil para Mulheres, idealizado pela prefeitura de São Bernardo do Campo.

As aulas acontecem na escola Madre Celina Polci, onde funciona o Núcleo de Construção Civil e Educação de Jovens e Adultos, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo. Lá, cerca de 150 mulheres atravessam diferentes módulos antes da formação, que visa abrir oportunidades de trabalho.

De acordo com os professores, o detalhe apurado e o capricho do toque feminino são os atributos que credenciam as alunas a exercer um trabalho diferente nesta área. O projeto evidencia mais uma conquista da mulher no mercado de trabalho, pois quem acreditava que trabalho pesado não combinava com o público feminino terá que rever seus conceitos.

Sobre o projeto

O curso é realizado de segunda a sexta-feira na Associação Padre Léo Comissari (Rua Padre Léo Comissari, 288, Jardim Silvina), nos períodos da manhã, tarde e noite, e na Escola Municipal de Iniciação Profissional (EMIP) Madre Celina Polci (Rua Barretos, 217, Baeta Neves), na parte da manhã e tarde. Mais informações pelo telefone 4126-3764.

Blog das alunas do curso:
http://bugola-mulheresempreenteirasdesbcampo.blogspot.com/

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O último suspiro do Jornal do Brasil


Artigo publicado na edição de setembro do jornal-laboratório "Olhar Social", da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS


Por Nilton Carvalho

Para algo se tornar histórico é necessário um legado importante, qualidade e inovação, atributos que ficam na memória e são imunes aos efeitos do tempo. Caso contrário, nomes como Paulo Francis e Norman Mailer seriam insignificantes hoje em dia. Ambos foram excepcionais jornalistas e escritores e por isso são lembrados com respeito, seja qual for a discussão ou assunto.

No caso de um jornal o pensamento segue a mesma linha. O tempo de atuação também conta bastante, como é o caso de jornais como Le Monde, The New York Times e Guardian. No Brasil, a trajetória do jornalismo também foi marcada pelos grandes jornais que, obviamente, contavam com profissionais competentes e que participaram diretamente da evolução do ofício. Entre os grandes jornais impressos do país está o Jornal do Brasil, popularmente conhecido como JB, que iniciou suas atividades em 1891 e que, infelizmente, já tem data marcada para a derradeira edição impressa. O dia 1º de setembro deste ano.

A decisão foi tomada pelo empresário Nelson Tanure, atual dono do jornal, cuja alegação é das mais manjadas: a ascensão da internet. O JB existirá apenas em versão online. Na redação, os jornalistas estão tristes e desconfiados porque todos sabem que seus empregos estão com os dias contados. O antigo concorrente, O Globo, que inclusive deu a notícia antes mesmo dos próprios editores e jornalistas do JB ficarem sabendo, deverá “reinar” absoluto em terras cariocas.

Ora, se a internet realmente fosse o motivo, todos os jornais estariam comprometidos. O que não se pode fazer é permanecer parado no tempo. Muitos jornais estão aprendendo a usar a internet como aliada, o que prova que a web pode formar uma boa parceria com o jornal impresso. O fato é que a notícia tem sido abordada de maneira melancólica pela imprensa de maneira geral, afinal de contas, trata-se de um jornal que existe há muito tempo no país e que empregou profissionais importantes ao longo dos anos.

No dia 1º de setembro a versão impressa do JB será enterrada e com ela os principais acontecimentos do Brasil, mas a pergunta que fica é: será que a crise financeira do Jornal do Brasil foi mesmo provocada pela internet? Há quem diga que Nelson Tenure possui outras experiências negativas com meios de comunicação. Como diria a lendária previsão do tempo, publicada pelo JB no dia 13 de dezembro de 1968, dia em que passou a vigorar o Ato Institucional Número 5 (AI-5), as condições climáticas estão adversas
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um Grindhouse nas mãos de Tarantino


Por Nilton Carvalho

Bastante popular na década de setenta, a Grindhouse, nada mais era do que sessões duplas de cinema. Nelas, rodavam filmes baratos produzidos com poucos recursos financeiros, carregados de cenas toscas e extremamente violentas. Características que influenciaram diretamente o estilo Quentin Tarantino de fazer cinema.

Inspirados pelo estilo Grindhouse, Tarantino, Robert Rodrigues e alguns amigos, decidiram elaborar produções para homenagear o famoso gênero cult do cinema setentista. Dentre os filmes do projeto estavam Planeta terror, de Rodriguez, e o recém lançado no Brasil, À prova de morte, de Tarantino.

O curioso é que a idéia inicial era lançar À prova de morte diretamente nas locadoras e não nos cinemas, como ocorreu com Planeta Terror. Mas, aproveitando a assinatura de Tarantino e o seu sucesso recente com Bastardos inglórios, os distribuidores decidiram apostar.

Entretanto, o longa está sendo exibido somente em algumas salas e acabou não entrando no circuito “blockbuster”. Azar de quem não vai conseguir assistir porque o filme traz grandes referências dos clássicos trash dos anos setenta. Desde as cenas violentas até grandes perseguições automobilísticas e, é claro, também conta com a pegada autoral de Tarantino.

Os diálogos, sempre bem elaborados, são marca presente nos trabalhos do diretor e abordam, de maneira abrangente, a personalidade da cada um dos personagens. Na trama, um ex-dublê de cinema, interpretado por Kurt Russell, que na realidade é um assassino de belas mulheres, anda pelos bares a procura de novas vítimas.

Tarantino também não deixa de mostrar seus dotes de ator e, assim como em outras produções, assume um pequeno papel no filme. Outra grande sacada, que também é “carta marcada” nas produções do diretor, é a presença de canções pop em meio às cenas e diálogos. A obsessão por assassinar beldades do ex-duble serial killer e as cenas eletrizantes de velocidade nas estradas fazem de À prova de morte um Grindhouse imperdível, como na era do cinema trash underground.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O adeus do anti-herói

Harvey Pekar (1939-2010)


Por Nilton Carvalho

No universo das artes é comum figuras importantes terem personalidade difícil ou serem consideradas chatas. Dentre elas, existem diversos exemplos como o músico Bob Dylan, o artista plástico Kasimir Malevich (1878-1935) e o escritor José Saramago (1922-2010). Essa característica quase sempre acompanha a genialidade do artista, como é o caso do quadrinista Harvey Pekar, criador e roteirista da série clássica de HQ American Splendor.

Quando pensamos em quadrinhos é claro que milhões de histórias e personagens surgem, entre eles, os mega sucessos da Marvel recheados de heróis e vilões de toda sorte. Entretanto, a grande sacada de Pekar foi ter a idéia de criar um personagem autobiográfico que abordasse os acontecimentos cotidianos de sua vida. Em American Slpendor não existem personagens fictícios com super poderes, mas um cara comum com personalidade ácida e cômica, um verdadeiro anti-herói americano.

Aliás, Anti-Herói Americano é o nome do filme inspirado na vida de Harvey Pekar, originalmente intitulado American Splendor, e com o ator Paul Giamanti no papel de Pekar. O longa, dirigido pela dupla Springer Berman e Robert Pulcini, conta como um simples arquivista, cuja vida tediosa parecia não ter mais sentido, acaba criando uma série de quadrinhos de grande sucesso.

A história de Harvey Pekar é uma prova de que grandes talentos podem estar escondidos nos lugares mais inusitados. O arquivista apaixonado por livros e discos teve a brilhante idéia de transformar a sua rotina em HQ, fruto de inquietações de um gênio. A emocionante luta contra o câncer se arrastou por vários anos e, infelizmente, terminou no último dia 12 de julho, quando a esposa Joyce Brabner encontrou o quadrinista morto em sua residência. O cotidiano de Pekar certamente irá deixar um vazio enorme no mundo dos quadrinhos
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terça-feira, 6 de julho de 2010

Entre sonhos e conflitos

Por Nilton Carvalho

Crônica publicada no jornal-laboratório "Olhar Social", do Curso de Jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS. Ano 2 - nº17

O jovem afegão Rustam Ashva conduzia o rebanho de volta para casa num fim de tarde cinza na montanhosa Cabul, capital do Afeganistão. Única fonte de renda da família Ashva, o gado era de grande valia em tempos difíceis de conflitos políticos. O mundo vivia momentos tensos. Após os atentados de 11 de setembro, falava-se muito sobre uma possível invasão norte-americana, isso porque, um dos principais suspeitos dos ataques, Osama Bin Laden, estaria supostamente escondido em terras afegãs.

Invasões não são novidades no Afeganistão. No final da década de setenta, a então União Soviética, numa manobra militar em apoio a um grupo comunista que havia chegado ao poder no país, permaneceu por muito tempo no Afeganistão. Fato que Rustam Ashva conhece muito bem, apesar de ter nascido somente em 1989, ele ouviu diversas vezes o pai contar sobre os momentos difíceis que passou. À época, o conflito ganhou intensidade com a ajuda bélica enviada pelos Estados Unidos, curiosamente, aos mesmos radicais fundamentalistas que hoje eles chamam de terroristas. Realmente, geopolítica é algo bastante complicado de entender.

Para o jovem Ashva, era difícil compreender o motivo que levava as pessoas a usarem armas, mesmo essa prática fosse bastante corriqueira no Afeganistão. Membro de uma família tradicional aos ensinamentos islâmicos, Rustam Ashva nuca aprovou as lutas religiosas tão comuns em sua região. O ódio entre judeus e muçulmanos é muito forte no Oriente Médio e tudo isso era complexo demais para um jovem de apenas 21 anos. Mesmo assim, Ashva sempre acreditou na paz entre as diferentes crenças.

Mas o momento político mundial não era bom, os dias se passaram e o inevitável aconteceu. A suspeita de uma possível intervenção militar norte-americana se tornou realidade. Os conflitos envolvendo Talibãs e soldados dos Estados Unidos e da ONU viraram uma triste rotina na vida das pessoas que moravam em Cabul. Conduzir o gado se tornou uma tarefa perigosa por causa da intensidade do conflito armado na região.

Na vida, às vezes, o acaso é um fator decisivo para as pessoas, seja positivo ou negativo não há como evitá-lo. Foi exatamente o que aconteceu com o jovem Rustam Ashva. Certo dia, quando conduzia o gado de volta para casa, o rapaz acidentalmente pisou em uma mina que estava, estrategicamente, enterrada com a finalidade de explodir algum ianque. Mas, o armamento acabou atingindo o alvo errado. De repente, tudo se apagou para o jovem afegão.

Quando Rustam Ashva abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi uma série de uniformes brancos. Alguns minutos depois ele descobriu que se tratava de um hospital. Reconheceu seus pais e irmãos, mas não gostou da expressão triste e assustadora da família. Por um instante ele foi tomado por uma forte angústia, como se algo terrível houvesse acontecido, o que de fato era verdade. De acordo com o laudo médico, ele iria perder a perna direita, membro que foi bastante danificado pela explosão.

O medo tomou conta do jovem afegão. Agora, ele seria obrigado a abandonar todos os seus sonhos por causa de um ferimento ocasionado por algo que ele sempre condenou. As armas.Hoje, cinco anos depois da tragédia, o jovem ainda caminha pelas regiões montanhosas de Cabul. Conduzir o gado agora é tarefa de seu irmão mais novo, que no último mês completou dezessete. Apesar das dificuldades, Rustam Ashva tem planos para o futuro, quer estudar medicina fora do país.

Recentemente, ele se inscreveu em um projeto de intercâmbio promovido pela ONU, um processo de deve demorar um pouco por causa de questões burocráticas. Mas, algumas coisas não mudaram para o jovem afegão, ele ainda não endente o motivo das armas e dos conflitos. Esse é um pensamento que o acompanha todos os dias que ele caminha pelos rochedos, munido de suas muletas. Hoje, a velocidade de sua caminhada diminuiu, mas ele segue firme o seu caminho, mesmo que sem entender alguns assuntos. Geopolítica, conflitos e armas, definitivamente, as matérias mais complicadas na opinião do jovem afegão.
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Espetáculo pop/erudito das ruas

Cia As Marias
Por Nilton Carvalho

Era uma tarde de outono, mas o frio lembrava muito o inverno, apesar do sol que brilhava no bairro do Calux em São Bernardo do Campo. A Praça Névio Albiero , inaugurada em 2007, foi o palco escolhido para a apresentação do grupo de teatro de rua Companhia As Marias.

Com a proposta de se apropriar dos espaços públicos, a companhia visa atrair pessoas que não estão acostumadas a ir ao teatro. O grupo, formado por Cibele Mateus, 24; Patrícia Janaína, 25; Cristiane Santos, 27; Anderson Gomes, 28, e Eric de Oliveira, 24; acabava de finalizar o ciclo de ensaios de seu último projeto antes de partir para os grandes centros urbanos. Juntos, decidiram transformar calçadas e praças em palco e cidadãos apressados em espectadores ocasionais.

A peça A moça que casou com o diabo é o trabalho mais recente. Nele, elementos populares e eruditos se unem proporcionando momentos de pura interação com a platéia. O título ousado desafia a religiosidade, mas, no decorrer das cenas tanto adultos quanto crianças se divertem com a história de uma moça “encalhada”, com mais de trinta anos, que acaba casando com o diabo.

Os olhares atentos do público observam a humilde devota de São Gonçalo, desapontada com o santo que não consegue dar a ela um bom pretendente, cair nas garras do sedutor vilão, que disfarçado de galã, consegue seduzi-la. A figura do diabo, o ser maligno mais temido entre as sociedades cristãs, parece não assustar as crianças que acompanham de perto todas as cenas do espetáculo.

Os ensaios semanais na praça traçaram uma relação especial entre o grupo e o público local. Alguns dos pequeninos espectadores sabem exatamente o desfecho da historia, mas não deixam de dar palpites durante a peça para que a moça descubra as reais intenções do demo. Um detalhe importante: os integrantes tiram toda a sujeira do local antes das apresentações. Na opinião do grupo, os ensaios são uma boa oportunidade para conscientizar as pessoas sobre a importância de se preservar a praça.

Quando o cenário fica pronto, crianças e adultos se acomodam no chão de concreto para acompanharem juntos a peça. Assim como o termômetro que mede a febre, a platéia serve de parâmetro para que o grupo saiba exatamente o que é possível melhorar na dramaturgia.

Durante as cenas, a platéia é questionada sobre diversos assuntos rotineiros da vida e é possível até ouvir uma ou outra citação de figuras bem conhecidas do cenário pop mundial, como o cantor Justin Timberlake. São esses elementos que fazem com que o público se identifique de imediato com a linguagem numa verdadeira salada pop/sofisticada. Quem já conhece o desfecho, faz questão de apreciar até o fim e quem assiste pela primeira vez, certamente terá outras oportunidades de vê-los ali no bairro.

Ensaios e mais ensaios para que esteja tudo certo quando o grupo partir rumo às apresentações nos parques e praças das regiões centrais do ABC e de São Paulo. Não importa se o público é formado por executivos engravatados, operários, crianças, mulheres ou moradores de rua, pois o desejo do grupo é estar ali, na selva de concreto, atraindo gente de toda sorte para conhecer a história da moça que casou com o diabo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tamanduateí, o rio poluído que corta o ABC


Crônica sobre o rio Tamanduateí, publicada no jornal-laboratório do curso de jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS.
Ilustração:Mariana Meloni


Por Nilton Carvalho

O rio Tamanduateí, cujo nome em tupi quer dizer “tamanduá grande”, nasce em Mauá, na região da Serra do Mar, e deságua no rio Tietê, no bairro do Bom Retiro. Sua história começa alegre e cristalina como as águas de uma nascente que desconhece a poluição e termina triste, como uma tragédia shakespeariana, por conta do esgoto urbano que contaminou a pureza de suas águas.

No início do século XX, o rio Tamanduateí era muito importante para os moradores do grande ABC. Muitos aproveitavam seu percurso, que atravessa os municípios de Santo André e São Caetano, para chegarem a São Paulo por meio de embarcações rio adentro. À época, era possível ver mulheres, donas de casa, lavando roupas nas margens do Tamanduateí com suas tábuas de lavar jogando conversa fora em manhãs ensolaradas.

A pesca era outra atividade possível nas águas do rio. Embora hoje isso possa parecer motivo de piada, pescar no Tamanduateí era tão comum quanto tapar o nariz para evitar o mau cheiro do rio atualmente. Sempre que o nível das águas subia os cardumes aumentavam e todos aproveitavam para pescar. Mas a pesca não era a única atividade possível por lá. Nas margens do rio, a molecada gostava de caçar rãs, frangos d’água e patos selvagens bastante comuns na região.

No entanto, a população aumentava em São Paulo e nas cidades do grande ABC e a urbanização crescia cada vez mais nos arredores do rio Tamanduateí. Não demorou para que o verde que prevalecia nas proximidades do rio fosse substituído por um novo tipo de selva, a de concreto, bem conhecida nos dias de hoje.

O ano de 1950 foi o grande divisor de águas na história do rio. Tudo começou com a construção de um pólo petroquímico em Capuava, no município de Mauá. Sim, na mesma cidade onde estão localizadas as nascentes do Tamanduateí. Começa então a tragédia ambiental que transformou o rio, tão importante para os moradores no começo do século, num fétido esgoto a céu aberto.

O avanço industrial cresceu nos moldes do capitalismo, buscando cada vez mais o lucro. Um avanço brusco e desenfreado que não se preocupava com as consequências ambientais. E assim o rio foi sendo poluído gradativamente ano após ano sem parar.

O Tamanduateí passou a receber intermináveis quantidades de esgoto urbano e resíduos químicos provenientes das indústrias com tamanha intensidade, que hoje em dia fica extremamente difícil imaginar que no mesmo rio um dia foi possível navegar, pescar e até nadar.

Mas quem pode ser responsabilizado por tamanha tragédia ambiental? Muitos são os culpados. Primeiramente os governos que viraram as costas para o problema quando a situação ainda estava sob controle. Em segundo, as empresas que não se preocuparam com o meio ambiente ao despejarem produtos químicos nas águas do rio. E nós, sim nós, a população que não cobra das autoridades soluções ambientais para um rio que está tão próximo da região em que vivemos.

Os benefícios que o rio Tamanduateí oferecia aos moradores no começo do século foram simplesmente esquecidos num passado pra lá de distante. O mesmo rio que um dia foi tão útil, hoje recebe resíduos químicos, lixo e esgoto produzidos pelo homem que certa vez usufruiu de suas águas. Uma triste ironia, levando em consideração as discussões atuais a respeito da emissão de gases estufa e aquecimento global.

Se o homem moderno está tão engajado em questões ecológicas, por que não começar pelo rio poluído que atravessa a sua cidade antes de tentar salvar o planeta? Reverter a situação trágica do rio Tamanduateí já seria um bom começo rumo às conquistas ambientais necessárias para um futuro sustentável.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Duas Coreias e um confronto

Guerra da Coreia (1950-1953)

Por Nilton Carvalho

O fim da Segunda Guerra Mundial dividiu o mundo em dois blocos políticos. Capitalistas de um lado e comunistas do outro, para ser mais preciso, Estados Unidos e aliados ocidentais contra a União Soviética e o bloco socialista, incluindo também a China. O destino da Coreia foi traçado, ou melhor, dividido justamente porque ambos os lados queriam disputar esse novo e promissor território comercial.

O inevitável confronto ocorreu em 1950 quando a Coreia do Norte, apoiada pelo bloco socialista, resolveu invadir Seul, capital da Coreia do Sul. A guerra se estendeu até 1953, ano em que as potências causadoras do conflito resolveram cessar fogo. Mas, as cicatrizes deixadas pelo tempo não foram esquecidas e refletem até os dias de hoje.

O cenário mundial mudo bastante, a Guerra Fria acabou e a tensão entre Estados Unidos e União Soviética não existe mais. Apesar das modificações geopolíticas a situação das Coreias continua tensa. Na última quinta-feira, 20 de maio, a Coreia do Sul acusou o governo de Pyongyang de atacar um navio sul-coreano deixando 46 mortos. O ataque supostamente teria ocorrido no dia 26 de março.

As evidências apresentadas aos aliados ocidentais provocaram discussões a respeito de “severas punições” contra o governo comunista. O governo norte-americano já afirmou que irá trabalhar em conjunto com a Coreia do Sul para que o caso seja levado ao Conselho de Segurança da ONU.

Enquanto os americanos tentam aprovar novas sanções ou, na pior das hipóteses, uma resposta bélica para a questão, as Coreias intensificam os exercícios militares num típico ensaio de guerra. Recentemente, o líder norte-coreano, Kim Jong-il, visitou a China, um de seus poucos aliados, para talvez buscar apoio em meio à tensão que ganhou força nos últimos dias.

O confronto militar não está descartado, já que se trata de uma questão histórica e que já passou por desfechos sangrentos nos anos 50. O governo da China, um dos membros do Conselho de Segurança da ONU, atuando como mediador seria uma boa alternativa. Enquanto a paz entre os dois países parece cada vez mais distante, uma nuvem de incertezas cobre o cenário político mundial, um espaço que parece ser pequeno demais para duas Coreias.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Redes sociais após a morte

Por Nilton Carvalho

Recentemente, li uma matéria no site do jornal Estado de São Paulo que me chamou a atenção. Alguns sites estão oferecendo um serviço inusitado, o gerenciamento de perfis póstumos nas redes sociais. E o mais incrível é que a tendência deve pegar.

Se o homem ainda não descobriu a receita para ter vida eterna, a febre das redes sociais acaba de quebrar mais um tabu. É claro que o assunto vai dar o que falar, mas não duvido que o serviço decole em redes como o Facebook e o Twitter.

Com serviços pra lá de inovadores, os sites oferecem até mesmo o envio de emails aos familiares que ficaram por aqui, em suas respectivas datas de aniversário. Quem já imaginou receber um "feliz aniversário" diretamente do além?

Um dos sites deste novo gênero, o MyLastEmail.com (olha só o nome!), se encarrega de enviar aos amigos e familiares um singelo email de despedida. Com tanta interação com o pessoal do outro lado, vai ter muito médium perdendo o emprego.

domingo, 9 de maio de 2010

A farra do jornalismo sem credibilidade

Por Nilton Carvalho

Na última semana, quem acompanha de perto o que acontece na grande imprensa notou uma série de discussões sobre a reportagem publicada na Veja, ano 43, nº18, intitulada como “A farra da antropologia oportunista”. Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, a revista teria publicado um depoimento dele sem que houvesse entrevista, ou seja, usaram as famosas aspas para algo que o antropólogo não falou.

Como se não bastasse, outra fonte citada na reportagem, o ex-presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, afirmou que também não deu nenhuma entrevista aos responsáveis pela matéria. Isso significa que, outra vez, a revista Veja comete sérios erros relacionados à ética que se deve seguir na prática do jornalismo.

Erros como este já fazem parte do “currículo” da revista, uma das mais importantes do país. Seguir uma linha editorial é uma coisa, deixar de cumprir regras básicas do jornalismo é outra. Reportagens que ouvem apenas fontes que defendem o mesmo ponto de vista e o uso constante de adjetivos nos textos comprometem a credibilidade da informação.

A revista deveria se pronunciar sobre essas graves acusações. Dar satisfação aos leitores é uma obrigação, principalmente, se tratando de uma revista que possui uma grande tiragem semanal. Para quem não sabe, jornalismo se faz com o maior nível de imparcialidade possível e o bom jornalista não defende este ou aquele interesse.

A repercussão negativa do fato mostra que tanto leitores quanto jornalistas estão de olho bem aberto para as gafes cometidas pela imprensa. Vale lembrar, que a internet proporciona uma facilidade muito grande na troca de informações. O que se erra hoje, no mesmo dia se questiona, e assim a falta de ética vai sendo descoberta. O jornalismo, às vezes, também é oportunista.

domingo, 25 de abril de 2010

Twitter, um gigante entre as mídias sociais


Por Nilton Carvalho

O aprimoramento dos meios de comunicação ocorre desde a revolução das técnicas de impressão promovida pela invenção de Gutenberg. De lá pra cá, as transformações e conquistas foram muitas e a internet talvez seja uma das mais significativas.

Uma das principais características da internet é a interação, que possibilita ao receptor tornar-se também emissor. Essa possibilidade é uma das principais virtudes das redes sociais. Na última semana, de acordo com a StatCounter, o Twitter passou a ser a rede social mais acessada pelos brasileiros.

Com uma restrição que permite aos usuários escrever apenas 140 caracteres, o Twitter virou uma febre. Percebido como um poderoso meio de interação, a ferramenta tem sido fortemente utilizada por jornalistas, políticos e celebridades. Assim como a “Aldeia Global”, um dos princípios do teórico Marshall McLuhan, o Twitter é uma experiência comunicativa compartilhada por diferentes culturas.

Apesar do sucesso entre internautas dos quatro cantos do planeta, há quem critique a ferramenta. Entre os críticos está o escritor José Saramago, que certa vez lamentou a limitação de caracteres imposta pelo Twitter.

A falta de espaço pode limitar a qualidade do conteúdo, o mesmo que acontece com as notícias atualizadas minuto a minuto nos sites jornalísticos. A baixa qualidade proporcionada pelos meios de produção em massa, citada pelo teórico Theodor Adorno, é um aspecto negativo que pode, facilmente, ser relacionado à internet.

As opiniões sobre o Twitter são muitas, mas o que não se pode negar é a facilidade com que essa nova ferramenta conquista mais e mais usuários a cada dia. Pessoas comuns, profissionais da comunicação, celebridades e até mesmo políticos, descobriram que interagir por meio de pequenas postagens é simples e direto, características básicas do ser humano nascido na era digital.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A ausência que empobrece o conteúdo

Por Nilton Carvalho

Uma das características mais importantes do jornalismo é a pesquisa. Se aprofundar no assunto é essencial para um conteúdo informativo de qualidade, coisa muito rara hoje em dia na imprensa. Mas, felizmente, ainda existem exceções.

Um bom exemplo é a jornalista Eliane Brum, que na última terça feira recebeu o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha, na categoria Imprensa. Eliane foi premiada pela matéria “O Islã dos Manos”, publicada na Época em fevereiro do ano passado e que aborda o aumento do islamismo entre a população negra do Brasil.

Em tempos de revoluções digitais, a imprensa se preocupa cada vez mais com a velocidade. Informar rápido, na maioria das vezes, deixa de lado a apuração. Sem tempo para pesquisar e refletir a respeito dos diversos ângulos do fato, o repórter tem mais chances de cometer a incômoda “barriga”, jargão bem conhecido na imprensa contemporânea.

Nas grandes redações raramente existe espaço para grandes reportagens, como a elaborada por Eliane Brum. Não há investimento, nem sequer vontade de se fazer um jornalismo mais aprofundado e que fuja um pouco do ”lide básico” tão comum hoje em dia.

O leitor não deseja apenas reportagens breves, ele também quer qualidade e ter certeza de que está lendo algo verdadeiro. É hora de reciclar o jornalismo atual, antes que repórteres como Eliane Brum desapareçam em meio à rapidez desenfreada. Daria pra imaginar Gay Talese ou Truman Capote escrevendo hoje em dia numa grande redação? Acredito que não.

sábado, 10 de abril de 2010

CCBB exibe festival É tudo verdade

Cena do documentário Inimigos do povo


Por Nilton Carvalho

O Centro Cultural Banco do Brasil exibe, entre os dias 9 e 18 de abril, a 15ª edição do festival internacional É tudo verdade. A mostra traz as 12 melhores produções documentais dos cinco continentes.

O festival, que apresenta grandes produções do cenário mundial, tem um representante brasileiro, o documentário Eu, o Vinil e o resto do Mundo, de Lia Rodrigues e Karina Ades. O filme, de 2008, narra a trajetória de jovens da periferia paulistana que participam do maior campeonato de DJs da América Latina.

Entre os gringos, o longa Inimigos do povo, de Rob Lemkin e Thet Sambath, Reino Unido e Camboja, merece destaque. O filme aborda as crueldades cometidas pelo Khmer Vermelho no Camboja. O diretor Thet Sambath teve os pais mortos durante o regime. No documentário, ele conta a própria história e também descobre outros relatos que narram as crueldades de uma época.

O norte-americano A escuridão do dia, do diretor Jay Rosenblatt, explora o suicídio em busca de um documentário mais consistente sobre o tema. Incertezas e depressão são aspectos que temperam o ambiente do filme. Vale destacar, os relatos de diferentes casos e também alguns escritos de Primo Levi e Ernest Hemingway.

CCBB

Data: 09 a 18 de abrilLocal: Cinema (70 lugares) Rua Álvares Penteado, 112 - CentroEntrada franca - mediante retirada de senha a partir das 10h do dia do eventoClassificação indicativa: de acordo com o filmeMaiores Informações: (11) 3113-3651/52

sábado, 3 de abril de 2010

O feminino soturno de Irina Ionesco


Por Nilton Carvalho

A fotógrafa Irina Ionesco gosta de retratar o universo feminino. Mas, a composição de suas imagens foge do convencional. A mostra Espelhos Luz e Sombra, em cartaz até 11 de abril na Caixa Cultural, selecionou 30 imagens da artista francesa. O trabalho retrata a mulher através de um olhar soturno que remete tragédias gregas, filmes hollywoodianos e estética gótica.

Ao se separar da mãe ainda durante a infância, Irina Ionesco busca nas imagens femininas um pouco das lembranças maternas. A fotógrafa começou sua carreira nas artes plásticas e pintando quadros desenvolveu o interesse pela fotografia. Em 1974, causou polêmicas ao retratar a filha, com idade entre 5 e10 anos, em poses provocantes.

Sua proposta para ilustrar o sexo feminino é baseada em imagens com fundo negro em que mulheres comuns viram modelos. A maquiagem branca e marcante deixa clara a influência gótica e soturna vigente nas imagens. As montagens, com apelo teatral, convidam os visitantes a interpretarem a mensagem expressa em cada foto captada pelas lentes de Ionesco.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Gafe, terrorismo e Afeganistão

Por Nilton Carvalho

O ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush esteve no Haiti ao lado do democrata Bill Clinton, que coordena o fundo de ajuda privado às vítimas do terremoto ocorrido em janeiro. Mesmo após ter deixado a Casa Branca, Bush continua aprontando suas tradicionais gafes. Desta vez, um vídeo flagrou o ex-presidente limpando a mão na camisa de Bill Clinton depois de ter cumprimentado um haitiano.
Vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=gI05S53ZKKI

Moscou acordou sob duas explosões no metrô que deixaram, pelo menos, 36 mortos. O serviço de inteligência russo, FSB, antiga KGB, alegou que os ataques estão ligados aos grupos separatistas que atuam na região da Tchetchênia, uma república do Cáucaso. A segurança no metrô de Moscou foi reforçada e o presidente Dmitri Medvedev disse que irá continuar combatendo o terrorismo sem hesitar.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou ontem a Cabul, no Afeganistão, para uma vista surpresa. Recebido pelo presidente afegão, Hamid Karzai, Obama se reuniu no gabinete presidencial com Karzai e autoridades norte-americanas. O presidente Barack Obama está em alta após conseguir a aprovação da reforma de saúde. Mas, em relação à presença militar dos Estados Unidos no Afeganistão, tem recebido opiniões divididas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Um jornalismo diferente

O repórter fictício Ernesto Varela entrentrevistando o político Paulo Maluf


Por Nilton Carvalho

O jornalista, em sua essência, deve informar, conectar o homem aos principais fatos ocorridos no mundo e também prestar serviços à sociedade. Em meio aos princípios e deveres do jornalismo, na longínqua década de sessenta, eis que surge um estilo envolvente e criativo de se redigir uma notícia, o jornalismo gonzo. Inicialmente capitaneado por Hunter Stockton Thompson (1937 – 2005), a nova abordagem ganhou vertentes em diversos países.

O envolvimento profundo do jornalista na história e um texto bem elaborado são características fundamentais no jornalismo gonzo. Outro fator que caracteriza o estilo são as boas doses de humor e sarcasmo nas entrevistas, que se tornaram ferramentas poderosas na exposição de um determinado fato. No Brasil, este tipo de entrevista ficou famosa com o repórter – e também ator, diretor e apresentador – Marcelo Tas, que possui em seu repertório uma grande influência do estilo gonzo.

Durante os anos oitenta, na produtora Olhar Eletrônico, Marcelo Tas fazia o papel de um repórter fictício chamado Ernesto Varela. O personagem entrevistava personalidades e, principalmente, políticos. No entanto, as entrevistas eram recheadas de perguntas inusitadas e ousadas que, na maioria das vezes, desconcertava os entrevistados.
Hoje, Marcelo Tas apresenta o programa CQC na TV Bandeirantes. O trabalho atual sofreu influência do saudoso repórter Ernesto Varela. Nesse estilo de entrevista, não há limites para ousadia e criatividade, os ingredientes principais na receita do jornalismo gonzo.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ilha do suspense

Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio no filme "Ilha do medo"

Por Nilton Carvalho

O novo filme de Martin Scorsese, Ilha do medo, cujo protagonista é Leonardo DiCaprio, estreou nos cinemas brasileiros na última sexta-feira, 12 de março. O longa é baseado no livro homônimo do escritor Dennis Lehane, conhecido por seus romances policiais no estilo Edgar Allan Poe.

Scorsese e DiCaprio já estiveram juntos em outros trabalhos como Gangues de Nova Iorque, O aviador e Os infiltrados. Mas, em Ilha do medo, a dupla decidiu apostar num projeto mais ousado. Na trama, DiCaprio é o agente federal Teddy Daniels, que vai até um hospital psiquiátrico, localizado numa ilha, para desvendar o sumiço de uma paciente.

Entretanto, uma série de acontecimentos colocam em xeque o que realmente está acontecendo no hospital. No filme, o agente sonha com seu passado e, entre memórias e realidade, tenta escapar do inevitável. Tudo parece suspeito e o desfecho imprevisível, o que leva o público a querer desvendar o mistério também.

O onirismo pelo qual o agente federal vivido por DiCaprio atravessa dividiu um pouco a crítica, mas, é peça fundamental no longa com pitadas de noir dirigido por Scorsese. Uma história onde há diversas possibilidades e apenas um final. O derradeiro instante em que o mistério é esclarecido, revelando a realidade e os delírios por trás do suspense. A parceria entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio continua rendendo bons frutos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Eleições e o espetáculo das inaugurações

Por Nilton Carvalho

A corrida pela presidência da república já começou. Os potenciais candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) apostam em inaugurações de obras para conquistarem o voto popular. De acordo com a reportagem publicada nesta terça feira, 9 de março, pela “Folha de São Paulo”, os candidatos querem entregar seus projetos antes da data de afastamento dos cargos.

O afastamento dos cargos permite que os candidatos se dediquem exclusivamente às suas campanhas, mas, os presidenciáveis já anteciparam a corrida eleitoral. A data de afastamento está prevista para o dia 3 de abril e tanto Serra quanto Dilma estão com as agendas recheadas de inaugurações.

Em São Paulo, o governador José Serra aposta na expansão da Linha 4 do Metrô e no trecho sul do Rodoanel para gabaritar sua competência. Já a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, joga todas as fichas em obras de saneamento e habitação do PAC para mostrar aos eleitores sua liderança.

Tudo indica que Serra e Dilma, candidatos com grandes possibilidades de decidirem as eleições no segundo turno, desejam crescer em intenção de voto. As recentes declarações de Lula e do ex-presidente Fernando Henrique, que reforçam cada vez mais o apoio aos seus candidatos, deixa clara a preocupação com o eleitorado.

Mas, inaugurar o maior número de obras no final do mandato não garante competência e tampouco liderança. A boa gestão está na totalidade da administração e não se resume apenas aos últimos meses. O que irá decidir as eleições é o melhor projeto para os próximos quatro anos. Um planejamento com obras que sejam concluídas ao longo do governo e não restritas somente aos períodos de campanha eleitoral.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Cochilo bandido


Por Nilton Carvalho

Uma crônica baseada na história do ladrão que assaltou uma casa durante a madrugada em São José dos Campos, na última quinta-feira, 4 de março, mas acabou sendo preso porque foi encontrado dormindo no sofá da residência...

Mané Ligeiro, como era conhecido em Santana, bairro onde morava na barulhenta e movimentada São Paulo, sempre fez jus ao apelido que possui desde os onze anos de idade. Desistiu da escola antes mesmo de completar o ensino fundamental e na ausência dos pais, que precisavam trabalhar para sustentar os cinco filhos, passava o dia inteiro na rua, pra lá e pra cá com a molecada.

O tempo passou, Mané Ligeiro completou maior idade e a dificuldade de arrumar um emprego se tornou um grande problema. As alternativas foram se esgotando e, sob a má influência das novas amizades, recebeu um convite para participar de um assalto. O plano era perfeito e o alvo era o mercadinho do bairro. Mas, o acaso resolveu conspirar contra a turma de Mané Ligeiro e no momento do assalto uma viatura da polícia, que fazia patrulha no bairro, prendeu os assaltantes em flagrante.

O juiz concluiu que Mané Ligeiro e seus amigos pegariam seis anos de prisão. Apesar de terem sido detidos no mesmo assalto, o grupo se desmanchou e cada um foi transferido para uma penitenciária diferente. Mané Ligeiro foi parar no presídio do Tremembé, zona norte de São Paulo.

Três anos se passaram e Ligeiro conseguiu um benefício pelo bom comportamento, o indulto de Natal, que permitiu a ele passar o feriado com a família. Mas, Mané Ligeiro decidiu que não voltaria mais ao presídio e elaborou um plano infalível que, segundo ele, desta vez não daria errado. Os pais foram contra a decisão do filho, mas os conselhos de nada adiantaram e a única coisa certa para um futuro sem expectativas era voltar à vida do crime.

Entre uns roubos aqui e outros ali, dois meses se passaram e Mané Ligeiro passou a despertar suspeita na vizinhança. Decidiu então que partiria para outra cidade e, quem sabe, conseguir assaltar um bairro que chamasse menos atenção. A cidade escolhida foi São José dos Campos. Ao descer do ônibus, Mané Ligeiro tinha certeza que estava na cidade certa e que esta, aparentemente uma "
cidade de bacana”, lhe renderia bons negócios.

De madrugada, Mané Ligeiro perambulava pelas ruas prestando muita atenção nas residências quando, de repente, avistou uma casa cujos muros eram baixos e que ele poderia invadir facilmente. Entrou sem fazer o menor ruído e não notou a presença de ninguém. Começou a encher as sacolas com roupas, todas de grifes famosas, e já podia até contabilizar o dinheiro que estava faturando no assalto. O trabalho pesado deixou Mané Ligeiro cansado e, como a viagem havia sido longa, resolveu tirar um cochilo no aconchegante sofá da sala de visitas.

Tudo o que Ligeiro não esperava é que havia um casal no outro quarto dormindo, que por sinal ele não tinha examinado ao invadir a casa. Isabel, que dormia ao lado do marido, levou um susto ao encontrar um sujeito estranho dormindo no sofá de sua casa por volta das 6h40 da manhã. Desesperada, ela acordou o marido e, sem fazer barulho, o casal ligou para a polícia. Os oficiais chegaram rapidamente, mais ou menos uns dez minutos após a ligação, e encontraram Mané Ligeiro tirando a maior soneca no sofá.

Ao ser despertado pela polícia, Mané Ligeiro tentou fugir e, como num pesadelo, não acreditava que tudo aquilo realmente pudesse estar acontecendo. Mas não adiantava tentar lutar contra dois policiais armados que o levaram para o 3º Distrito Policial da cidade. Mané Ligeiro tinha o plano perfeito, só não contava que encontraria um adversário de peso, o sono, que dominou seu corpo no momento da saída triunfal. Agora ele irá voltar para a prisão, de onde havia fugido após um ato de pura esperteza e que agora, por causa de um “cochilo bandido”, terá de voltar para cumprir sua pena.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ilhas do conflito, parte dois


Por Nilton Carvalho

Descobertas pela França, as ilhas Malvinas, cujo nome é de origem francesa, passaram a ser divididas com a chegada dos ingleses. As primeiras disputas aconteceram quando a França vendeu sua parte para a Espanha e esta, por sua vez, declarou guerra ao Reino Unido. O conflito terminou com a divisão sendo mantida e, com o fim da colonização espanhola, a Argentina herdou a metade pertencente à Espanha.

Os ingleses não aceitaram a presença argentina nas ilhas e em 1833 assumiram o controle total da região. Desde então, o governo da Argentina reivindica a soberania sobre as Malvinas. Durante os anos oitenta, ocorreu um confronto envolvendo os dois países, vencido pelos britânicos, que ficou conhecido como a Guerra das Malvinas.

A polêmica envolvendo a soberania sobre as ilhas esquentou nos últimos dias quando o governo britânico decidiu explorar petróleo na região. A decisão irritou a presidente Cristina Kirchner, que acusa os ingleses de intervir nas Malvinas antes de uma decisão final da ONU sobre o impasse. Os países que formam a Calc (Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe) expressaram apoio ao governo argentino.

O governo britânico alega que a maioria dos cidadãos que vivem nas ilhas Malvinas, batizadas de Falkland pelos ingleses, desejam continuar a fazer parte do Reino Unido. A tensão diplomática entre os dois países deve pressionar a ONU para que uma definição seja estabelecida. Ambos os governos descartam uma intervenção militar, mas por se tratar de uma divergência histórica, a soberania sobre as Malvinas disputada por Inglaterra e Argentina necessita de um ponto final mediado pela ONU.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

No doce sabor do carnaval


Por Nilton Carvalho

O sol brilhava forte e o calor era intenso no sambódromo do Anhembi, localizado na cidade de São Paulo. O carnaval 2010 chegava ao seu último dia na terra da garoa, mas antes, era preciso saber quem seria a escola campeã. Suor, calor e apreensão apimentavam a euforia do público que compareceu à cerimônia de apuração do carnaval paulistano.

A cada nota uma emoção diferente tomava conta dos torcedores presentes no sambódromo. O local, onde as escolas de samba mostraram toda a sua arte na noite dos desfiles, agora estava repleto de ansiedade e muita torcida. Todos queriam o tão cobiçado troféu que seria entregue à escola de samba de maior destaque no carnaval deste ano.

Os jurados, baseados em seus termos técnicos, não perdoaram falhas corriqueiras e foram extremamente rigorosos. De acordo com os mais apaixonados foliões, em alguns pontos o júri foi injusto, mas as notas deveriam ser respeitadas. Seja como for, nada mais poderia alterar o que já havia sido avaliado e as escolas foram recebendo suas respectivas notas uma a uma passando por todas as categorias.

Com o enredo “O cacau chegou”, a Rosas de Ouro conquistou o tão cobiçado título adoçando de vez a vida de sua torcida, que lotou a quadra da escola numa grande festa. A atual campeã, Mocidade Alegre, perdeu a chance de levantar o troféu em 2010 e, apesar da boa pontuação, ficou em segundo lugar. A escola de samba Gaviões da Fiel reclamou, fez barulho, mas não evitou o modesto quinto lugar, que gerou muita reclamação em cada ponto perdido durante a apuração.

Dois décimos decidiram um ano de preparação para o carnaval 2010 e quem tem motivos de sobra para comemorar é a Rosas de Ouro, vencedora deste ano. Os torcedores vibraram em cada nota dez conquistada pela escola e agora podem soltar o grito de campeão que estava entalado na garganta. O carnaval terminou doce para a campeã Rosas de Ouro, que com o enredo “O cacau chegou”, fez um desfile tão bom quanto saborear um chocolate.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Em decorrência da crise


Por Nilton Carvalho

O ano de 2009 não foi bom para os jornais brasileiros. Uma pesquisa elaborada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) aponta que no ano passado houve uma queda de 3,5% em relação a 2008 na circulação de jornais.

Os números preocupam porque desde a ascensão da internet o jornal impresso tem sido alvo de discussões envolvendo o novo formato do jornalismo na era digital, mas a queda na circulação ocorrida no ano passado não parecer ter ligação com os avanços tecnológicos e sim com a crise financeira que atingiu o mercado em 2009.

De acordo com o presidente do IVC, Pedro Martins Silva, o impacto causado pela crise afetou os jornais principalmente nos primeiros seis meses de 2009. No segundo semestre, com o início da recuperação econômica, a queda era de 2%, o que demonstra que os jornais sofreram os mesmos efeitos dos demais setores da indústria brasileira.

Nos últimos anos, os jornais tiveram um crescimento de 8% e seguiam a tendência de crescimento do mercado brasileiro, até esbarrarem na crise financeira do ano passado. Com o aumento dos jornais populares, é possível que os jornais consigam se recuperar da queda na circulação, mas retomar o crescimento anterior à crise será uma meta difícil de alcançar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Discussões sobre um curso sem diploma


Por Nilton Carvalho

A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalismo em junho do ano passado, tem gerado constantes discussões a respeito do curso do jornalismo. Com queda do diploma a procura pelo curso diminuiu e as universidades, que foram prejudicadas, já pensam em alternativas, muitas delas, nada agradáveis para quem pretende cursar jornalismo.

A Universidade Mogi das Cruzes (UMC) foi uma das universidades que optou em tomar uma decisão mais drástica. Após sofrer uma queda de 50% na procura pelo curso de jornalismo, a coordenadoria decidiu suspender a turma que iniciaria o curso esse semestre. Apesar de negar a intenção de fechar o curso, a coordenadoria alega que muitos dos estudantes de jornalismo se sentiram desmotivados com o fim da obrigatoriedade do diploma.

Considerado o melhor ofício do mundo pelo escritor e jornalista Gabriel Garcia Marquez, a profissão jornalismo está cercada de incertezas provocadas pela queda do diploma. Na época em que ocorreu a ascensão do curso de jornalismo nas universidades, Garcia Marquez, questionava o aprendizado do estudante de jornalismo, mas a posição defendida pelo escritor em nenhum momento se assemelha à polêmica decisão do STF.

Durante a fase romântica do jornalismo, o profissional dispunha de mais tempo para apurar os fatos o que resultava em matérias com um vasto conteúdo informativo. Hoje, com o boom dos meios de comunicação, isso é praticamente impossível e o jornalista luta contra o tempo nas grandes redações. Para atender aos padrões exigidos na era digital o jornalista necessita adquirir cada vez mais noções técnicas para exercer a profissão. Tais exigências concretizam a importância do curso de jornalismo.

Vale ressaltar, que o curso não garante o bom profissional, mas apenas ensina conceitos importantes como a ética, o comprometimento com a imparcialidade e a responsabilidade como comunicador na prestação de serviços à sociedade, dever máximo do bom jornalista. A decisão do STF, que derruba a obrigatoriedade do diploma, faz com que o estudante não atravesse esta etapa do processo de formação profissional e permite que os meios de comunicação moldem o jornalista cada um à sua maneira, um aprendizado que compromete a credibilidade do conteúdo informativo.

Os apaixonados pelo melhor ofício do mundo estão preocupados com o futuro da profissão, afinal, a única alternativa que resta é torcer para que a emenda à Constituição que exige o diploma de jornalismo, em votação no Senado, consiga a quantidade necessária de votos para ser aprovada. Seja em defesa do lide, nariz de cera ou pauta, o diploma de jornalismo precisa ser obrigatório para todos que desejam exercer um dia a profissão jornalismo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma ferida corriqueira em Picasso

O quadro "O Ator", danificado na última sexta-feira

Por Nilton Carvalho

O Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque respirava os ares de mais um dia de visitas na movimentada cidade norte-americana. O respeitável acervo do museu atrai milhares de visitantes todos os anos, grande parte, vinda de diversos lugares do mundo.

Mas, para a surpresa de todos, na última sexta-feira um fato inusitado acabou chamando a atenção. Uma das visitantes conversava com amigos enquanto apreciava as obras de arte quando, acidentalmente, caiu sobre um importante quadro de Pablo Picasso. O tombo provocou um rasgo vertical de 15,24 cm na parte inferior da pintura.

O rasgo acertou em cheio a história da arte. A obra danificada, O Ator, pintada entre 1904 e 1905, é uma raridade que pertence ao chamado “período rosa” do artista. O museu classificou dano como “discreto”, mas, especialistas afirmam que restaurar uma obra com mais de cem anos é tarefa das mais difíceis.

O acaso parece mesmo perseguir o legado de Pablo Picasso. Em 2006, o proprietário de um cassino em Las Vegas perfurou o quadro Le Rêve, de 1932, ao apoiar o cotovelo na obra. Sobreviver ao tempo e escapar dos tropeços corriqueiros da vida são os principais desafios a serem superados, para que a obra do mestre espanhol continue sempre a fascinar o universo da arte.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O New York Times e a internet


Por Nilton Carvalho

A revolução causada na comunicação pela internet tem preocupado cada vez mais as mídias impressas. O novo formato do jornalismo, provocado pelo crescimento da procura por conteúdos online, obrigou os meios de comunicação a inovarem seus formatos para não serem descartados do mercado.

Essa preocupação culminou na decisão anunciada pela Times Company na última quarta-feira, 20 de janeiro. A partir de 2010 os usuários irão pagar para terem acesso ao conteúdo online do New York Times. Entretanto, a Times Co. informou que os internautas poderão acessar apenas uma determinada parte do material jornalístico veiculado no site.

A Times Company tomou a decisão na tentativa de recuperar os prejuízos causados pela diminuição da circulação do material impresso. Para o presidente da Times Co., Arthur Sulzberger, a medida é uma aposta da empresa para os novos rumos da internet. Mas, analistas acreditam que a decisão é arriscada demais porque as perdas com a publicidade podem ser maiores que o lucro obtido com a cobrança do acesso.

O jornal de maior circulação nos Estados Unidos tenta novamente se adaptar aos padrões da comunicação após o advento da internet. A mídia digital surge como uma grande ferramenta, mas, necessita de reparos e, muitas vezes, parece não ter sido bem compreendida pelos meios de comunicação. A adaptação do jornalismo às regras da era digital ainda deve levar um tempo para ser concluída.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A nouvelle vague está de luto


Por Nilton Carvalho

A sétima arte acaba de perder um de seus autores. Nesta segunda-feira, 11 de janeiro, o cineasta Eric Rohmer faleceu em Paris aos 89 anos. Rohmer ficou conhecido por ser um dos criadores da nouvelle vague, importante movimento artístico do cinema francês.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu na França um importante movimento que modificou os conceitos de cinema da época, a nouvelle vague. O grupo era formado por jovens críticos de cinema que escreviam artigos para a revista "Cahiers du Cinéma". Entre os críticos estavam Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, François Truffaut e Claude Chabrol.

Rhomer foi editor da revista "Cahiers du Cinéma" de 1954 à 1963 e um dos fundadores de "La Gazette du Cinèma". Foi escritor e publicou romances, como "Elisabeth" de 1946, e contos. Entre suas principais premiações no cinema estão o Leão de Ouro em Veneza com o filme “Raio Verde” e o prêmio Luis Delluc em 1971, com “O joelho de Claire”.

Ao definir o cinema como arte, a nouvelle vague quebrou as regras que vigoravam no cinema comercial, valorizando o autor como peça principal na composição de um filme. No cinema de autor, idealizado por Eric Rhomer, o mais importante é o conceito artístico da obra.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Do futebol às eleições


Por Nilton Carvalho

Cinco títulos mundiais, o campeonato nacional mais disputado do planeta e jogadores espalhados pelos principais clubes europeus. Essas características firmam o Brasil como uma potência do futebol e, consequentemente, credenciam a seleção brasileira para a disputa da Copa da África do Sul, que será realizada este ano.

Mas, neste ano o país viverá outro clima de decisão, as eleições. O povo brasileiro irá eleger Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores e o Presidente da República. A polêmica envolvendo dois acontecimentos tão importantes e tão distintos como a disputa da Copa e as eleições é em relação ao patriotismo dos cidadãos brasileiros.

No último ano, fatores negativos na política como os escândalos no Senado e no governo do Distrito Federal colocam em cheque a credibilidade dos políticos para as próximas eleições. Mesmo assim, a ministra da Casa Civil Dilma Roussef (PT) e o governador do Estado de São Paulo José Serra (PSDB) ganharam força como potenciais candidatos à sucessão do presidente Lula. O eleitor brasileiro, por sua vez, prefere esperar um pouco mais para entrar no clima das eleições e o assunto preferido parece ser mesmo a disputa da Copa.

Em 2009, a seleção brasileira conquistou a Copa das Confederações e as próximas projeções serão todas voltadas à Copa do Mundo de 2010, que será realizada na África do Sul. A expectativa para a disputa do mundial mexe emocionalmente com os brasileiros que, em época de Copa, pintam as calçadas de verde e amarelo e hasteiam bandeiras, esbanjando patriotismo nos quatro cantos do país.

Para o brasileiro, o ano de 2010 começa repleto de expectativas em torno das eleições e, principalmente, da disputa da Copa do Mundo. Acontecimentos que devem mobilizar o país. As eleições talvez ainda não despertem o patriotismo dos brasileiros como a seleção, mas, é importante que o povo acompanhe o processo eleitoral com atenção e vote consciente. Votar com responsabilidade é desejar um país vencedor não apenas no futebol.