sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O último suspiro do Jornal do Brasil


Artigo publicado na edição de setembro do jornal-laboratório "Olhar Social", da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS


Por Nilton Carvalho

Para algo se tornar histórico é necessário um legado importante, qualidade e inovação, atributos que ficam na memória e são imunes aos efeitos do tempo. Caso contrário, nomes como Paulo Francis e Norman Mailer seriam insignificantes hoje em dia. Ambos foram excepcionais jornalistas e escritores e por isso são lembrados com respeito, seja qual for a discussão ou assunto.

No caso de um jornal o pensamento segue a mesma linha. O tempo de atuação também conta bastante, como é o caso de jornais como Le Monde, The New York Times e Guardian. No Brasil, a trajetória do jornalismo também foi marcada pelos grandes jornais que, obviamente, contavam com profissionais competentes e que participaram diretamente da evolução do ofício. Entre os grandes jornais impressos do país está o Jornal do Brasil, popularmente conhecido como JB, que iniciou suas atividades em 1891 e que, infelizmente, já tem data marcada para a derradeira edição impressa. O dia 1º de setembro deste ano.

A decisão foi tomada pelo empresário Nelson Tanure, atual dono do jornal, cuja alegação é das mais manjadas: a ascensão da internet. O JB existirá apenas em versão online. Na redação, os jornalistas estão tristes e desconfiados porque todos sabem que seus empregos estão com os dias contados. O antigo concorrente, O Globo, que inclusive deu a notícia antes mesmo dos próprios editores e jornalistas do JB ficarem sabendo, deverá “reinar” absoluto em terras cariocas.

Ora, se a internet realmente fosse o motivo, todos os jornais estariam comprometidos. O que não se pode fazer é permanecer parado no tempo. Muitos jornais estão aprendendo a usar a internet como aliada, o que prova que a web pode formar uma boa parceria com o jornal impresso. O fato é que a notícia tem sido abordada de maneira melancólica pela imprensa de maneira geral, afinal de contas, trata-se de um jornal que existe há muito tempo no país e que empregou profissionais importantes ao longo dos anos.

No dia 1º de setembro a versão impressa do JB será enterrada e com ela os principais acontecimentos do Brasil, mas a pergunta que fica é: será que a crise financeira do Jornal do Brasil foi mesmo provocada pela internet? Há quem diga que Nelson Tenure possui outras experiências negativas com meios de comunicação. Como diria a lendária previsão do tempo, publicada pelo JB no dia 13 de dezembro de 1968, dia em que passou a vigorar o Ato Institucional Número 5 (AI-5), as condições climáticas estão adversas
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um Grindhouse nas mãos de Tarantino


Por Nilton Carvalho

Bastante popular na década de setenta, a Grindhouse, nada mais era do que sessões duplas de cinema. Nelas, rodavam filmes baratos produzidos com poucos recursos financeiros, carregados de cenas toscas e extremamente violentas. Características que influenciaram diretamente o estilo Quentin Tarantino de fazer cinema.

Inspirados pelo estilo Grindhouse, Tarantino, Robert Rodrigues e alguns amigos, decidiram elaborar produções para homenagear o famoso gênero cult do cinema setentista. Dentre os filmes do projeto estavam Planeta terror, de Rodriguez, e o recém lançado no Brasil, À prova de morte, de Tarantino.

O curioso é que a idéia inicial era lançar À prova de morte diretamente nas locadoras e não nos cinemas, como ocorreu com Planeta Terror. Mas, aproveitando a assinatura de Tarantino e o seu sucesso recente com Bastardos inglórios, os distribuidores decidiram apostar.

Entretanto, o longa está sendo exibido somente em algumas salas e acabou não entrando no circuito “blockbuster”. Azar de quem não vai conseguir assistir porque o filme traz grandes referências dos clássicos trash dos anos setenta. Desde as cenas violentas até grandes perseguições automobilísticas e, é claro, também conta com a pegada autoral de Tarantino.

Os diálogos, sempre bem elaborados, são marca presente nos trabalhos do diretor e abordam, de maneira abrangente, a personalidade da cada um dos personagens. Na trama, um ex-dublê de cinema, interpretado por Kurt Russell, que na realidade é um assassino de belas mulheres, anda pelos bares a procura de novas vítimas.

Tarantino também não deixa de mostrar seus dotes de ator e, assim como em outras produções, assume um pequeno papel no filme. Outra grande sacada, que também é “carta marcada” nas produções do diretor, é a presença de canções pop em meio às cenas e diálogos. A obsessão por assassinar beldades do ex-duble serial killer e as cenas eletrizantes de velocidade nas estradas fazem de À prova de morte um Grindhouse imperdível, como na era do cinema trash underground.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O adeus do anti-herói

Harvey Pekar (1939-2010)


Por Nilton Carvalho

No universo das artes é comum figuras importantes terem personalidade difícil ou serem consideradas chatas. Dentre elas, existem diversos exemplos como o músico Bob Dylan, o artista plástico Kasimir Malevich (1878-1935) e o escritor José Saramago (1922-2010). Essa característica quase sempre acompanha a genialidade do artista, como é o caso do quadrinista Harvey Pekar, criador e roteirista da série clássica de HQ American Splendor.

Quando pensamos em quadrinhos é claro que milhões de histórias e personagens surgem, entre eles, os mega sucessos da Marvel recheados de heróis e vilões de toda sorte. Entretanto, a grande sacada de Pekar foi ter a idéia de criar um personagem autobiográfico que abordasse os acontecimentos cotidianos de sua vida. Em American Slpendor não existem personagens fictícios com super poderes, mas um cara comum com personalidade ácida e cômica, um verdadeiro anti-herói americano.

Aliás, Anti-Herói Americano é o nome do filme inspirado na vida de Harvey Pekar, originalmente intitulado American Splendor, e com o ator Paul Giamanti no papel de Pekar. O longa, dirigido pela dupla Springer Berman e Robert Pulcini, conta como um simples arquivista, cuja vida tediosa parecia não ter mais sentido, acaba criando uma série de quadrinhos de grande sucesso.

A história de Harvey Pekar é uma prova de que grandes talentos podem estar escondidos nos lugares mais inusitados. O arquivista apaixonado por livros e discos teve a brilhante idéia de transformar a sua rotina em HQ, fruto de inquietações de um gênio. A emocionante luta contra o câncer se arrastou por vários anos e, infelizmente, terminou no último dia 12 de julho, quando a esposa Joyce Brabner encontrou o quadrinista morto em sua residência. O cotidiano de Pekar certamente irá deixar um vazio enorme no mundo dos quadrinhos
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terça-feira, 6 de julho de 2010

Entre sonhos e conflitos

Por Nilton Carvalho

Crônica publicada no jornal-laboratório "Olhar Social", do Curso de Jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS. Ano 2 - nº17

O jovem afegão Rustam Ashva conduzia o rebanho de volta para casa num fim de tarde cinza na montanhosa Cabul, capital do Afeganistão. Única fonte de renda da família Ashva, o gado era de grande valia em tempos difíceis de conflitos políticos. O mundo vivia momentos tensos. Após os atentados de 11 de setembro, falava-se muito sobre uma possível invasão norte-americana, isso porque, um dos principais suspeitos dos ataques, Osama Bin Laden, estaria supostamente escondido em terras afegãs.

Invasões não são novidades no Afeganistão. No final da década de setenta, a então União Soviética, numa manobra militar em apoio a um grupo comunista que havia chegado ao poder no país, permaneceu por muito tempo no Afeganistão. Fato que Rustam Ashva conhece muito bem, apesar de ter nascido somente em 1989, ele ouviu diversas vezes o pai contar sobre os momentos difíceis que passou. À época, o conflito ganhou intensidade com a ajuda bélica enviada pelos Estados Unidos, curiosamente, aos mesmos radicais fundamentalistas que hoje eles chamam de terroristas. Realmente, geopolítica é algo bastante complicado de entender.

Para o jovem Ashva, era difícil compreender o motivo que levava as pessoas a usarem armas, mesmo essa prática fosse bastante corriqueira no Afeganistão. Membro de uma família tradicional aos ensinamentos islâmicos, Rustam Ashva nuca aprovou as lutas religiosas tão comuns em sua região. O ódio entre judeus e muçulmanos é muito forte no Oriente Médio e tudo isso era complexo demais para um jovem de apenas 21 anos. Mesmo assim, Ashva sempre acreditou na paz entre as diferentes crenças.

Mas o momento político mundial não era bom, os dias se passaram e o inevitável aconteceu. A suspeita de uma possível intervenção militar norte-americana se tornou realidade. Os conflitos envolvendo Talibãs e soldados dos Estados Unidos e da ONU viraram uma triste rotina na vida das pessoas que moravam em Cabul. Conduzir o gado se tornou uma tarefa perigosa por causa da intensidade do conflito armado na região.

Na vida, às vezes, o acaso é um fator decisivo para as pessoas, seja positivo ou negativo não há como evitá-lo. Foi exatamente o que aconteceu com o jovem Rustam Ashva. Certo dia, quando conduzia o gado de volta para casa, o rapaz acidentalmente pisou em uma mina que estava, estrategicamente, enterrada com a finalidade de explodir algum ianque. Mas, o armamento acabou atingindo o alvo errado. De repente, tudo se apagou para o jovem afegão.

Quando Rustam Ashva abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi uma série de uniformes brancos. Alguns minutos depois ele descobriu que se tratava de um hospital. Reconheceu seus pais e irmãos, mas não gostou da expressão triste e assustadora da família. Por um instante ele foi tomado por uma forte angústia, como se algo terrível houvesse acontecido, o que de fato era verdade. De acordo com o laudo médico, ele iria perder a perna direita, membro que foi bastante danificado pela explosão.

O medo tomou conta do jovem afegão. Agora, ele seria obrigado a abandonar todos os seus sonhos por causa de um ferimento ocasionado por algo que ele sempre condenou. As armas.Hoje, cinco anos depois da tragédia, o jovem ainda caminha pelas regiões montanhosas de Cabul. Conduzir o gado agora é tarefa de seu irmão mais novo, que no último mês completou dezessete. Apesar das dificuldades, Rustam Ashva tem planos para o futuro, quer estudar medicina fora do país.

Recentemente, ele se inscreveu em um projeto de intercâmbio promovido pela ONU, um processo de deve demorar um pouco por causa de questões burocráticas. Mas, algumas coisas não mudaram para o jovem afegão, ele ainda não endente o motivo das armas e dos conflitos. Esse é um pensamento que o acompanha todos os dias que ele caminha pelos rochedos, munido de suas muletas. Hoje, a velocidade de sua caminhada diminuiu, mas ele segue firme o seu caminho, mesmo que sem entender alguns assuntos. Geopolítica, conflitos e armas, definitivamente, as matérias mais complicadas na opinião do jovem afegão.
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Espetáculo pop/erudito das ruas

Cia As Marias
Por Nilton Carvalho

Era uma tarde de outono, mas o frio lembrava muito o inverno, apesar do sol que brilhava no bairro do Calux em São Bernardo do Campo. A Praça Névio Albiero , inaugurada em 2007, foi o palco escolhido para a apresentação do grupo de teatro de rua Companhia As Marias.

Com a proposta de se apropriar dos espaços públicos, a companhia visa atrair pessoas que não estão acostumadas a ir ao teatro. O grupo, formado por Cibele Mateus, 24; Patrícia Janaína, 25; Cristiane Santos, 27; Anderson Gomes, 28, e Eric de Oliveira, 24; acabava de finalizar o ciclo de ensaios de seu último projeto antes de partir para os grandes centros urbanos. Juntos, decidiram transformar calçadas e praças em palco e cidadãos apressados em espectadores ocasionais.

A peça A moça que casou com o diabo é o trabalho mais recente. Nele, elementos populares e eruditos se unem proporcionando momentos de pura interação com a platéia. O título ousado desafia a religiosidade, mas, no decorrer das cenas tanto adultos quanto crianças se divertem com a história de uma moça “encalhada”, com mais de trinta anos, que acaba casando com o diabo.

Os olhares atentos do público observam a humilde devota de São Gonçalo, desapontada com o santo que não consegue dar a ela um bom pretendente, cair nas garras do sedutor vilão, que disfarçado de galã, consegue seduzi-la. A figura do diabo, o ser maligno mais temido entre as sociedades cristãs, parece não assustar as crianças que acompanham de perto todas as cenas do espetáculo.

Os ensaios semanais na praça traçaram uma relação especial entre o grupo e o público local. Alguns dos pequeninos espectadores sabem exatamente o desfecho da historia, mas não deixam de dar palpites durante a peça para que a moça descubra as reais intenções do demo. Um detalhe importante: os integrantes tiram toda a sujeira do local antes das apresentações. Na opinião do grupo, os ensaios são uma boa oportunidade para conscientizar as pessoas sobre a importância de se preservar a praça.

Quando o cenário fica pronto, crianças e adultos se acomodam no chão de concreto para acompanharem juntos a peça. Assim como o termômetro que mede a febre, a platéia serve de parâmetro para que o grupo saiba exatamente o que é possível melhorar na dramaturgia.

Durante as cenas, a platéia é questionada sobre diversos assuntos rotineiros da vida e é possível até ouvir uma ou outra citação de figuras bem conhecidas do cenário pop mundial, como o cantor Justin Timberlake. São esses elementos que fazem com que o público se identifique de imediato com a linguagem numa verdadeira salada pop/sofisticada. Quem já conhece o desfecho, faz questão de apreciar até o fim e quem assiste pela primeira vez, certamente terá outras oportunidades de vê-los ali no bairro.

Ensaios e mais ensaios para que esteja tudo certo quando o grupo partir rumo às apresentações nos parques e praças das regiões centrais do ABC e de São Paulo. Não importa se o público é formado por executivos engravatados, operários, crianças, mulheres ou moradores de rua, pois o desejo do grupo é estar ali, na selva de concreto, atraindo gente de toda sorte para conhecer a história da moça que casou com o diabo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tamanduateí, o rio poluído que corta o ABC


Crônica sobre o rio Tamanduateí, publicada no jornal-laboratório do curso de jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS.
Ilustração:Mariana Meloni


Por Nilton Carvalho

O rio Tamanduateí, cujo nome em tupi quer dizer “tamanduá grande”, nasce em Mauá, na região da Serra do Mar, e deságua no rio Tietê, no bairro do Bom Retiro. Sua história começa alegre e cristalina como as águas de uma nascente que desconhece a poluição e termina triste, como uma tragédia shakespeariana, por conta do esgoto urbano que contaminou a pureza de suas águas.

No início do século XX, o rio Tamanduateí era muito importante para os moradores do grande ABC. Muitos aproveitavam seu percurso, que atravessa os municípios de Santo André e São Caetano, para chegarem a São Paulo por meio de embarcações rio adentro. À época, era possível ver mulheres, donas de casa, lavando roupas nas margens do Tamanduateí com suas tábuas de lavar jogando conversa fora em manhãs ensolaradas.

A pesca era outra atividade possível nas águas do rio. Embora hoje isso possa parecer motivo de piada, pescar no Tamanduateí era tão comum quanto tapar o nariz para evitar o mau cheiro do rio atualmente. Sempre que o nível das águas subia os cardumes aumentavam e todos aproveitavam para pescar. Mas a pesca não era a única atividade possível por lá. Nas margens do rio, a molecada gostava de caçar rãs, frangos d’água e patos selvagens bastante comuns na região.

No entanto, a população aumentava em São Paulo e nas cidades do grande ABC e a urbanização crescia cada vez mais nos arredores do rio Tamanduateí. Não demorou para que o verde que prevalecia nas proximidades do rio fosse substituído por um novo tipo de selva, a de concreto, bem conhecida nos dias de hoje.

O ano de 1950 foi o grande divisor de águas na história do rio. Tudo começou com a construção de um pólo petroquímico em Capuava, no município de Mauá. Sim, na mesma cidade onde estão localizadas as nascentes do Tamanduateí. Começa então a tragédia ambiental que transformou o rio, tão importante para os moradores no começo do século, num fétido esgoto a céu aberto.

O avanço industrial cresceu nos moldes do capitalismo, buscando cada vez mais o lucro. Um avanço brusco e desenfreado que não se preocupava com as consequências ambientais. E assim o rio foi sendo poluído gradativamente ano após ano sem parar.

O Tamanduateí passou a receber intermináveis quantidades de esgoto urbano e resíduos químicos provenientes das indústrias com tamanha intensidade, que hoje em dia fica extremamente difícil imaginar que no mesmo rio um dia foi possível navegar, pescar e até nadar.

Mas quem pode ser responsabilizado por tamanha tragédia ambiental? Muitos são os culpados. Primeiramente os governos que viraram as costas para o problema quando a situação ainda estava sob controle. Em segundo, as empresas que não se preocuparam com o meio ambiente ao despejarem produtos químicos nas águas do rio. E nós, sim nós, a população que não cobra das autoridades soluções ambientais para um rio que está tão próximo da região em que vivemos.

Os benefícios que o rio Tamanduateí oferecia aos moradores no começo do século foram simplesmente esquecidos num passado pra lá de distante. O mesmo rio que um dia foi tão útil, hoje recebe resíduos químicos, lixo e esgoto produzidos pelo homem que certa vez usufruiu de suas águas. Uma triste ironia, levando em consideração as discussões atuais a respeito da emissão de gases estufa e aquecimento global.

Se o homem moderno está tão engajado em questões ecológicas, por que não começar pelo rio poluído que atravessa a sua cidade antes de tentar salvar o planeta? Reverter a situação trágica do rio Tamanduateí já seria um bom começo rumo às conquistas ambientais necessárias para um futuro sustentável.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Duas Coreias e um confronto

Guerra da Coreia (1950-1953)

Por Nilton Carvalho

O fim da Segunda Guerra Mundial dividiu o mundo em dois blocos políticos. Capitalistas de um lado e comunistas do outro, para ser mais preciso, Estados Unidos e aliados ocidentais contra a União Soviética e o bloco socialista, incluindo também a China. O destino da Coreia foi traçado, ou melhor, dividido justamente porque ambos os lados queriam disputar esse novo e promissor território comercial.

O inevitável confronto ocorreu em 1950 quando a Coreia do Norte, apoiada pelo bloco socialista, resolveu invadir Seul, capital da Coreia do Sul. A guerra se estendeu até 1953, ano em que as potências causadoras do conflito resolveram cessar fogo. Mas, as cicatrizes deixadas pelo tempo não foram esquecidas e refletem até os dias de hoje.

O cenário mundial mudo bastante, a Guerra Fria acabou e a tensão entre Estados Unidos e União Soviética não existe mais. Apesar das modificações geopolíticas a situação das Coreias continua tensa. Na última quinta-feira, 20 de maio, a Coreia do Sul acusou o governo de Pyongyang de atacar um navio sul-coreano deixando 46 mortos. O ataque supostamente teria ocorrido no dia 26 de março.

As evidências apresentadas aos aliados ocidentais provocaram discussões a respeito de “severas punições” contra o governo comunista. O governo norte-americano já afirmou que irá trabalhar em conjunto com a Coreia do Sul para que o caso seja levado ao Conselho de Segurança da ONU.

Enquanto os americanos tentam aprovar novas sanções ou, na pior das hipóteses, uma resposta bélica para a questão, as Coreias intensificam os exercícios militares num típico ensaio de guerra. Recentemente, o líder norte-coreano, Kim Jong-il, visitou a China, um de seus poucos aliados, para talvez buscar apoio em meio à tensão que ganhou força nos últimos dias.

O confronto militar não está descartado, já que se trata de uma questão histórica e que já passou por desfechos sangrentos nos anos 50. O governo da China, um dos membros do Conselho de Segurança da ONU, atuando como mediador seria uma boa alternativa. Enquanto a paz entre os dois países parece cada vez mais distante, uma nuvem de incertezas cobre o cenário político mundial, um espaço que parece ser pequeno demais para duas Coreias.